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Delegada diz que ex-secretário deu número de ex-amante para ser grampeado

Alana Cardoso, da Polícia Civil, disse que o secretário denunciou que estava sendo ameaçado pela ex-amante. Delegada alega temer pela própria vida.

Um documento enviado à Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT), a delegada Alana Cardoso afirma que o número da ex-servidora pública Tatiana Sangalli Padilha, interceptado na operação Forti, da Polícia Civil, foi dado pelo ex-secretário da Casa Civil Paulo Taques, que teve um caso extraconjugal com a jovem. Tatiana informou, em nota enviada à imprensa, que teve um relacionamento amoroso com Taques entre 2009 e 2015.

Alana, que diz temer pela própria vida, afirma que essa informação foi dada ao secretário de Segurança Pública, Roger Jarbas. Porém, isso não consta do ofício enviado por ele à diretoria da Polícia Civil sobre o assunto. O monitoramento do número de Tatiana foi feito em 2015.

Paulo Taques, que é primo do governador Pedro Taques (PSDB), negou, na época em que o escândalo veio à tona, ter mandado interceptar o telefone da ex-amante. Nesta sexta-feira (2), a reportagem tentou entrar em contato, mas ele não atendeu as ligações. Ele deixou o cargo de secretário dias antes do escândalo do esquema de grampos operado pela Polícia Militar ser divulgado, em maio.

O telefone da ex-amante dele foi monitorado também pela PM e em outra operação da Polícia Civil. Desde a operação, o governador declarou várias vezes que desconhecia esse esquema e que tem defendido as investigações sobre o caso.

Alana enviou à OAB o documento, ao qual o G1 teve acesso, nessa quinta-feira (1º) . Ela foi ouvida por Roger Jarbas e pelo secretário-adjunto de Inteligência da Sesp, Gustavo Garcia Francisco, no dia 26 de maio, após ter recebido convocação para se explicar sobre indícios de interceptações irregulares no âmbito da operação Forti.

A suspeita a respeito da legalidade da interceptação do telefone da ex-amante do secretário foi levantada pela juíza Selma Arruda, da 7ª Vara Criminal, que foi quem autorizou a escuta. A magistrada disse que o telefone pode ter sido inserido de forma irregular na operação Forti, iniciada em janeiro de 2015 para investigar organizações criminosas que estariam agindo em presídios.

Paulo Taques deixou o comando da Casa Civil dias antes do esquema de grampos da PM ter vindo à tona, em maio (Foto: José Medeiros/ Gcom-MT)

Paulo Taques deixou o comando da Casa Civil dias antes do esquema de grampos da PM ter vindo à tona, em maio (Foto: José Medeiros/ Gcom-MT)

No documento enviado à OAB-MT, Alana nega qualquer irregularidade na escuta e diz que foi informada pela então secretária-adjunta de Inteligência da Sesp, delegada Alessandra Saturnino, de que o número de Tatiana e de uma secretária da Casa Civil foram inseridos na Forti em caráter de urgência por causa da gravidade da denúncia. Havia a suspeita de que uma delas estaria se encontrando com o ex-chefe do crime organizado de Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro, preso há 14 anos. Arcanjo cumpre pena em um presídio de segurança máxima em Mossoró (RN).

A delegada diz ainda que existe uma tentativa de “investigar transversalmente” o promotor de Justiça Mauro Zaque, secretário de Segurança à época da operação e responsável por acionar a Procuradoria-Geral da República para denunciar o esquema de grampos operado pela PMno estado. A PGR investiga se o governador Pedro Taques sabia do esquema e se o teria ordenado.

“Cumpre destacar que foi perguntado textualmente à delegada se houve algum contato do promotor de Justiça Mauro Zaque, o que foi respondido negativamente e ainda se em algum momento houve algum pedido de interceptação formulado por Paulo Taques ou Mauro Zaque, o que foi igualmente respondido com um não”, diz trecho do documento assinada pela delegada.

Alana contou ainda que não teve acesso ao ofício enviado por Jarbas à diretoria da Polícia Civil na quarta-feira (31) e que o vazamento desse documento na mídia foi feito com a intenção de atingir a imagem da Segurança Pública perante a sociedade e tumultuar a investigação na PGR.

Ela também criticou a conduta de Jarbas no ofício. No documento, ele frisa que a operação Forti estava sob a coordenação de Alessandra Saturnino, então subordinada a Mauro Zaque na Sesp-MT.

“Todos os documentos que comprovam a probidade e ilegalidade e finalidade da operação Forti estão na sede da Sesp nas mãos do secretário Rogers Jarbas que está interpretando o trabalho sério de maneira adversa, conforme mencionado”, diz a delegada no ofício.

A mesma suspeita de que Tatiana de Paulo Taques planejava algo contra o governador foi investigada em outra operação da Polícia Civil, a “Querubim”. Nessa operação, os telefones dessa jovem e da amiga dela também foram interceptados.

A Querubim, coordenada pelo delegado Flávio Stringueta, então chefe do Grupo de Combate ao Crime Organizado (GCCO), foi arquivada 45 dias depois, com a conclusão de que a ex-amante queria prejudicar, na verdade, Paulo Taques, e não o governador.

Agora, Stringuetta deve fazer parte da equipe montada pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que investiga os grampos. O pedido para que ele ajudasse nessa investigação partiu do desembargador Orlando Perri, que decretou sigilo na apuração do caso.

Por G1 MT