Cunha, Funaro, Loures… os ‘homens-bomba’ que rondam Temer
- 18 de junho de 2017 - 12:38
O presidente Michel Temer (PMDB) acumulou ao menos duas vitórias políticas nos últimos dias: se livrou da cassação no Tribunal Superior Eleitoral e conseguiu manter o apoio do PSDB, vital para a sustentação do seu governo. Mas no horizonte ainda há várias outras bombas para o peemedebista desarmar nos próximos se quiser permanecer à frente do cargo, ao qual foi alçado após a queda da presidente Dilma Rousseff (PT), em meio a um cenário de instabilidade política semelhante.
Além da iminente denúncia que será feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, outros “homens-bomba” ameaçam o futuro político do presidente. Os ex-deputados Rodrigo Rocha Loures e Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro estão presos, cansados e prestes a colaborar com as investigações. Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer, não está preso, mas pode ser a qualquer momento – nesta semana, entregou passaporte ao Supremo Tribunal Federal para evitar a prisão. Henrique Eduardo Alves, ex-ministro de Temer, não deu sinais de estar prestes a colaborar, mas está preso e é investigado por atos que resvalam no governo.
E ainda tem o empresário Joesley Batista, que detonou a crise atual, se exilou na China e voltou ao Brasil criticando Temer e reafirmando a sua disposição de continuar colaborando nas investigações contra o presidente.
Veja abaixo os “homens-bomba” no caminho de Temer:
RODRIGO JANOT
Pode criar o fato político mais relevante nos próximos dias ao oferecer denúncia contra Temer no inquérito em que o presidente é investigado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. Se oferecer denúncia, ela precisará ser aprovada por 2/3 da Câmara dos Deputados para ser aceita pelo Supremo Tribunal Federal. Hoje, a avaliação é que o presidente tem base política suficiente no Congresso para arquivar a investigação, por isso, é esperado que o procurador-geral da República venha com fatos novos, capazes de provocar algum tipo de impacto que impeça os congressistas de barrarem a denúncia. Além do teor da acusação em si, a iniciativa de Janot pode abalar a sustentação política do governo. O PSDB, que decidiu esta semana permanecer na base aliada, anunciou que pode rever a decisão se a denúncia contra o presidente for aceita pelo Congresso. A expectativa é que a denúncia seja apresentada até o dia 26 deste mês.
O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), peça-chave na sequência de fatos que levou ao impeachment de Dilma e à ascensão de Temer, está no limite, segundo seus familiares. Preso desde outubro de 2016 em Curitiba, pela Operação Lava Jato, já ameaçou envolver Temer (PMDB) nas investigações ao arrolá-lo, por duas vezes, como testemunha e encaminhar a ele mais de 40 perguntas, sugerindo irregularidades de conhecimento do colega de partido e relacionando seu nome a outros peemedebistas sob suspeita, como Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Na conversa que Joesley Batista gravou no Palácio do Jaburu, Temer, na avaliação do Ministério Público Federal, concorda com o pagamento de “mesada” para que Cunha fique calado. Na quarta-feira, Cunha prestou depoimento no inquérito no qual Temer é investigado, a pedido da Procuradoria-Geral da República, e disse que seu silêncio nunca esteve à venda. Ele respondeu a mais de 20 perguntas sobre Temer. E, pior, pode a qualquer momento fechar uma delação premiada com os procuradores, que, certamente envolveria o presidente.
Ex-ministro de Temer, na poderosa Secretaria de Governo, caiu ao ser acusado por seu colega, Marcelo Calero (Cultura), de fazer lobby para empreendimento particular no qual tinha interesse. Em sua delação, Joesley Batista diz que, depois que Temer assumiu, sua comunicação com o presidente se dava através de Geddel e que toda vez que este queria saber se os pagamentos a Eduardo Cunha estavam sendo realizados , ele perguntava: “E o passarinho? Está calmo?”. Geddel também foi acusado pelo MPF de integrar uma quadrilha com Cunha para cobrar propinas em um esquema envolvendo a Caixa e a liberação de dinheiro para grandes grupos, entre eles o J & F, ao qual pertence a JBS. Nesta semana, ele entregou seu passaporte e abriu o seu sigilo bancário ao Supremo Tribunal Federal por receio de ser preso a qualquer momento, o que não está descartado. Aliado próximo de Temer até outro dia, uma eventual colaboração dele pode complicar ainda mais o presidente.
Ex-assessor especial de Temer, o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi indicado pelo presidente a Joesley Batista, na conversa gravada pelo empresário no Palácio do Jaburu, como interlocutor para tratar de qualquer assunto no governo. Logo depois, foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil do diretor da JBS Ricardo Saud, em uma pizzaria em São Paulo. Em depoimento ao MPF, Saud disse que Loures era intermediário e que o dinheiro era para Temer. Está preso e desesperado – nesta semana, pediu para ser retirado do presídio da Papuda, no Distrito Federal, e levado à carceragem da Polícia Federal em Brasília por que se sentia ameaçado no presídio. Ainda não prestou depoimento no inquérito em que é investigado junto com Temer – na primeira oportunidade, ficou calado. Mas vai ser chamado a depor novamente e, em algum momento, terá de dizer de quem era o dinheiro na mala.
Ex-ministro do Turismo de Temer, pediu demissão após ter sido citado na delação de Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, que disse ter pago a ele R$ 1,55 milhão em propina. Integrante da cúpula do PMDB e do governo – ele estava ao lado de Temer no Planalto durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) -, foi preso este mês pela Polícia Federal acusado de receber propina da OAS e da Odebrecht resultante do superfaturamento da Arena das Dunas, em Natal. Também é acusado de integrar, com Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, um esquema de cobrança de propina para liberação de recursos da Caixa. A prisão dele assustou o Palácio do Planalto. Sua delação não chegou a ser aventada ainda, mas mesmo os seus futuros depoimentos e as investigações em andamento em torno dele levaram mais tensão ao governo e podem se transformar em mais um desgaste para Temer.
Desencadeador da atual crise política ao gravar o presidente da República e entregar o vídeo ao Ministério Público Federal dentro de um amplo acordo de delação premiada, o empresário voltou ao país esta semana, após ter se “exilado” na China, segundo ele, para preservar a integridade de sua família, que estaria sofrendo “reiteradas ameaças” desde que ele decidiu colaborar com as investigações. E mandou um recado a Temer ao dizer que “estava na China – e não passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo presidente da República”. Ele voltou a prestar depoimento à Procuradoria-Geral da República nesta sexta-feira – segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ele reafirmou todas as acusações que fez na delação premiada. O empresário continua disposto a colaborar com o Ministério Público Federal e pode trazer fatos à investigação. As informações são da Revista Veja.