CRESCIMENTO E DESAFIOS

Por Vivaldo Lopes *

Na terça feira passada (03) o IBGE publicou os dados do desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre de 2024. Sem nenhuma surpresa para os analistas do mercado, economistas, bancos e governo, o PIB cresceu 0,9% em relação ao segundo trimestre e 4% em comparação com o terceiro trimestre de 2023. Do lado da produção, o robusto crescimento foi puxado pelo setor de serviços e pela indústria. Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias e os investimentos foram os motores do bom desempenho da atividade econômica no período de julho a setembro.

Os vetores que impulsionaram a elevação do consumo das famílias foram o baixo desemprego (6,2%), aumento da renda do trabalho acima da inflação e os desembolsos dos programas de transferência de renda.

Os investimentos privados iveram expressivo crescimento pois as empresas se posicionaram para cobrir o hiato produtivo que ainda perdurava desde as paralisações impostas pela pandemia (2020-2021).

As empresas foram impulsionadas pelo aumento do consumo de produtos e serviços. Investiram mais em máquinas, equipamentos, expansão e construção de novas plantas industriais e comerciais para aumentar a capacidade para atender o aquecimento da demanda. Isso fica bem evidente nos dados que mostram forte aumento das importações de bens de capital e insumos produtivos, mesmo com o câmbio desfavorável. O tímido desempenho das exportações confirma que a boa performance da economia foi protagonizada pelo mercado doméstico.

Outro aspecto favorável é a abrangência e consistência do crescimento. A atividade cresceu nos três trimestres do ano, e não se concentrou em apenas um (primeiro trimestre), como ocorreu em 2022 e 2023. A indústria manufatureira, comércio e serviços foram as locomotivas do crescimento ao longo do ano, reduzindo a dependência de um único setor, o agropecuário, que apresenta sazonalidade ligada à colheita e comercialização da safra agrícola e tem forte correlação com a demanda externa e preços internacionais das commodities agropecuárias.

Os dados positivos do PIB do terceiro trimestre e da comparação anual levaram os economistas, bancos e agentes do mercado de capitais a revisarem para cima as expectativas de crescimento da economia em 2024. A mediana das estimativas indica que o PIB de 2024 ficará entre 3,5% e 4%, muito acima das projeções iniciais de 1,5%.

O desafio é sustentar o mesmo nível de crescimento para os anos seguintes, com o mercado de trabalho muito aquecido e inflação acima da meta. A taxa de desemprego que já está baixa e com tendência de queda, pressiona os custos das empresas com mão de obra e podem ser repassados aos preços, diante da demanda aquecida. A inflação pouco acima da meta força o Banco Central a elevar a taxa básica de juros que, por sua vez, inibe os investimentos das empresas para expandir a capacidade de produção e atender a pressão do consumo de produtos e serviços.

Outro desafio é estancar a trajetória crescente da dívida pública em relação ao PIB. Ao final de 2022 essa relação era de 72% e atualmente está em 78%, patamar alto para um país emergente, como o Brasil. O desequilíbrio das contas públicas e aumento da taxa de juros para conduzir a inflação rumo à meta de 3% contribuem para elevar a relação dívida pública/PIB. Portanto, são duas variáveis que precisam estar entre as principais prioridades do governo e da equipe econômica. Sob o risco de tornar o bom desempenho econômico do país insustentável no médio prazo.

Mesmo nesse ambiente de mercado de trabalho em pleno emprego e taxas de juros elevadas, os investimentos privados crescem e as famílias continuam consumindo, mostrando uma resiliência que não encontra explicação razoável nos manuais de teoria econômica.

A economia brasileira apresenta bom desempenho desde 2022, quando cresceu 3%. Em 2023 o crescimento foi de 3,2% e em 2024 deve ficar acima de 3,5%.  Esse ritmo de crescimento alto deve continuar em 2025 e 2026.

O forte desempenho da economia impõe à equipe econômica e ao Banco Central a difícil tarefa de harmonizar as políticas fiscal e monetária de forma tal que o crescimento não pressione a inflação a ponto de exigir a continuidade de taxas de juros elevadas por muito mais tempo.

* Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP ([email protected]).