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Corinthians não paga nem espuma de Carnaval, é recordista de protestos em cartórios e lidera ‘ranking dos calotes’

Espumas de carnaval, pó sprays de colorir, distribuição de comida, compra de areia para construção, fornecimento de grama, pintura de ônibus, vidros para o CT, hospedagens fora de São Paulo, taxas de basquete, bebidas, serviços de limpeza, equipamentos para construção… Tudo isso, por mais distinto que cada item seja entre si, hoje faz parte do universo de dívidas do Corinthians, segundo vasta apuração do ESPN.com.br.

No total, são 89 protestos por falta de pagamentos registrados em tabeliães paulistas contra o clube. Juntos, eles somam mais de R$ 1 milhão, em sua maioria composto por valores pequenos, como inadimplências na faixa dos R$ 9 mil ou até de somente R$ 350. Em situação econômica delicada, o Corinthians lidera com folga o “ranking dos calotes” entre os grandes clubes brasileiros.

Segundo dados do Instituto de Estudos de Protestos de Títulos do Brasil (IEPTB), o Corinthians possui quase 30 vezes mais que o arquirrival Palmeiras, por exemplo, que tem só três. O Santos, outro dos principais adversários, para efeito de comparação, não possui nenhum. Já o São Paulo tem 29, mas todos da mesma empresa, pois existe uma discussão sobre confusão patrimonial e de pessoa jurídica, além de que os valores já estão todos depositados em juízo enquanto não sai o julgamento sobre o caso.

Na última terça-feira, 23 de maio, a reportagem foi aos 10 tabeliães de protestos de São Paulo e conferiu todos essas dívidas registradas contra os clubes paulistas. No total, em dinheiro, o Corinthians superou a marca de R$ 1 milhão em protestos – R$ 1,097,281.59, para ser mais exato. O Palmeiras não alcança R$ 20 mil, contra cerca de R$ 100 mil do São Paulo. O Santos, após trabalho intenso de seu jurídico, hoje se vê livre dessas ações.

Em pesquisa da reportagem feita na última sexta-feira junto ao IEPTB, o órgão apontou que o Vasco possui 72 registros de protestos, contra 27 do Botafogo, 13 do Flamengo, quatro do Grêmio, um do Fluminense e um do Internacional – Cruzeiro e Atlético-MG, assim como o Santos, também não possuem nenhum protesto, de acordo com os dados do Instituto. Ou seja: o Corinthians supera, com folga, todos os demais grandes clubes do país no quesito.

A reportagem procurou Emerson Piovesan, diretor financeiro corintiano, para comentar a respeito dos 89 protestos. “Sim, tenho conhecimento. Mas tudo isso está sendo pago já. Às vezes atrasa o processo de pagamento mesmo, mas vamos pagar tudo. Estamos pagando”, disse o dirigente.

Em mãos, a reportagem possui todas as 10 certidões positivas de protestos que documentam as 89 acusações de calotes contra o Corinthians. Vale explicar que cada protesto representa uma ação de um portador de um título comercial que não teve efetuado seu pagamento dentro do prazo, garantindo assim seu pagamento por ações judiciais.

OS CALOTES

Ao longo da quarta-feira, o ESPN.com.br tentou contato com praticamente todas as empresas que registraram esses 89 protestos contra o Corinthians – todos eles foram registrados recentemente, entre o fim de 2016 e os primeiros meses de 2017.

Muitas dessas empresas confirmaram que as dívidas ainda existem, mas pediram para não dar nenhuma declaração oficial à reportagem. Outras não quiseram se manifestar, enquanto uma minoria apontou que já entrou em acordo com o clube. Já as restantes não atenderam às ligações ou não foram encontradas.

HOSPEDAGEM

O primeiro a receber um telefonema foi o departamento financeiro do Hotel Guest, em Venâncio Aires, com protesto recente registrado.

“Não posso passar informações referentes a isso, sugiro que fale com o clube para saber o motivo de isso ter acontecido”, disse uma funcionária. O local possui uma dívida de R$ 15.270,88 pode ser referente a isso. O clube jogou na cidade do Rio Grande do Sul pela semifinal Liga Futsal no fim do ano passado, contra a Assoeva.

A cobrança não é a única referente a serviço de hospedagem. Uma empresa chamada San Sabino cobra R$ 13,158.20 do time alvinegro. Em contato com os telefones disponíveis, a ESPN verificou que trata-se do nome fantasia da instituição que cuida de hotéis como Confort e Atlântica. O departamento responsável não respondeu ao e-mail.

Arena Corinthians 10/08/2016

© Robert Cianflone/FIFA via Getty Images Arena Corinthians 10/08/2016

ALIMENTAÇÃOJá a Distribuidora Irmãos Avelino, com dois protestos contra o clube de cerca de R$ 9,6 mil, explicou: “A gente vende produtos alimentícios. Só não sei em que pé que está a cobrança. Vendemos alimentos para restaurantes”, informou Fernando, funcionário do local.

Essa não é a única inadimplência por serviços alimentícios entre as 89 registradas. A Três Passos Alimentos, por exemplo, confirmou calote corintiano de R$ 2,640.00, mas não deu declaração oficial.

Já a Spal, de bebidas, espera receber R$ 3,883.92, a San Pedro mais R$ 5,542.99 e a Affonso Tieri outros R$ 4,700.85 – a reportagem não conseguiu contato com nenhuma das três. A Multi Nox, por sua vez, tem registro de R$ 5,155.64, mas afirma já ter acordo com o clube para receber a quantia.

GRAMA, AREIA E VIDRO

Uma das cobranças que mais chama a atenção é de apenas R$ 350. “Entregamos gramas para eles (do Corinthians). São dois protestos”, confirmou Tarcísio, da empresa O Rei da Grama, que ainda tem mais outro débito, este de R$ 2,1 mil.

Já a LS Comércio, especialista no fornecimento de areia para construções e reformas, confirmou protesto registrado no valor de R$ 1,800.00. A Tintas MC também tem uma cobrança pelo comércio de tinta, no valor de R$ 1,879.40.

A Vidraçaria Casa Verde, que produziu os vidros dos alojamentos, academias e demais edifícios do CT Joaquim Grava, registrou dois protestos que, somados, dão aproximadamente R$ 3,5 mil cada – a firma não atendeu aos telefonemas da reportagem.

TROFÉUS E MEDALHAS

Merece destaque o protesto por falta de pagamento pela aquisição de troféus no valor de R$ 1,5 mil. O site da corporação credora mostra taças para categorias infantis do clube. “Fizemos produtos para um evento interno deles lá e ainda não recebemos”, explicou Daniel, da Troféus Olimpo, que continua à espera do pagamento.

O time alvinegro também não pagou pela aquisição de medalhas junto a uma empresa parceira, que mesmo assim confiar nos serviços do clube.

“Aconteceu (essa dívida), mas sempre resolveram (dívidas anteriores). Por isso continuamos fazendo parcerias com eles. Estamos esperando solucionar essa de agora, mas não tem nenhum estresse quanto a isso”, explicou João, da Fator Arte Artigos Promocionais, que tem um protesto no 2º Tabelião no valor de R$ 7.086,30.

SPRAY E ESPUMA DE CARNAVAL

Já a Dollar Brasil, empresa que organiza festas, tem quase R$ 9 mil distribuídos por três inadimplências contabilizadas nos tabeliães. O valor foi gasto pelo clube para a compra de produtos para alegrar festejos carnavalescos.

“Vendemos para eles mercadoria de Carnaval, no caso pó spray colorido e espuma de Carnaval. Isso foi em janeiro de 2017”, disse o departamento financeiro da Dollar Brasil.

No site oficial da empresa, os dois produtos mencionados custam R$ 5,99 cada unidade. Entre 25 e 28 de fevereiro deste ano, o clube organizou o seu tradicional baile de Carnaval no Parque São Jorge, que contou com matinês e festas.

CONSTRUÇÃO

A Embrase, que faz Segurança Patrimonial e Eletrônica, entre outras operações de segurança, é a empresa que mais cobra do Corinthians. São sete protestos registrados em dois cartórios, que variam entre R$ 6 mil e R$ 132 mil, totalizando mais de R$ 340 mil.

A ESPN entrou em contato com a empresa, que confirmou os registros e ficou de enviar um posicionamento oficial por e-mail ainda nesta quarta-feira, o que não foi feito até a publicação da reportagem.

A Concreserv, uma das maiores fornecedoras de concreto do Brasil, é mais uma com cobranças, no caso de R$ 45 mil, distribuídas em quatro protestos registrados. A Hidrotudo cobra R$ 8,5 mil, a empreiteira Visual mais R$ 60 mil, a Eco X, especialista em madeiras, mais R$ 1,1 mil, além de outras empresas do ramo de construção.

EMPRESA DE DIRETOR

A Jaça Comércio de Material de Construção possui dois protestos contra o time do Parque São Jorge.

Após consulta na Receita Federal, a reportagem constatou que a empresa é de propriedade de Jacinto Antônio Ribeiro, o Jaça, diretor adjunto da base do Corinthians.

“Isso aí foi um mal-entendido na época. Isso já está pago, mandei a carta de anuência. Mas o Corinthians pagou e não deram baixa ainda”, explicou o diretor, que também é conselheiro da agremiação alvinegra.

PLATAFORMAS E ÔNIBUS

Já a Vertical Rental, especializada em plataformas utilizadas em reformas e construções, tem no 2º Tabelião um protesto de R$ 1,8 mil. A reportagem entrou em contato com a empresa, que se explicou.

“Foi um problema quando saiu o diretor, o Edu Ferreira, pois as notas fiscais eram entregues para ele e acabaram ficando engavetadas. Foi um erro administrativo e já acertaram”, contou um representante.

Edu Ferreira, no caso, era diretor adjunto de futebol.

A Placart Impressão Digital, que produz adesivos, por sua vez, apontou estar em andamento um acordo para receber os R$ 3,2 mil de um protesto, enquanto a Guaritex Comunicação Visual, que produz as pinturas dos ônibus do clube, cobra R$ 13,7 mil, mas também disse já ter resolvido a questão.

PAINÉIS E SONS

Também existem outras empresas que falaram já ter se acertado com o clube, apesar de os protestos seguirem registrados em cartório. “A gente entrou em acordo já e estão pagando. Fornecemos painéis de eletricidade para eles. Demorou, mas pagaram a primeira parte agora e vão pagar o resto”, explicou Wagner, da VW, que tem três protestos registrados de R$ 15,6 mil cada e outro de quase R$ 4 mil.

“Já foi pago, só preciso mandar a carta de anuência. Contudo, se não tivessem pago ainda e tivesse um serviço no fim do ano com eles, eu faria novamente o evento, pois sei que uma hora sempre acabam pagando. Existem problemas financeiros no Corinthians que todos nós sabemos, mas as coisas estão indo”, disse um representante da Promosom, com um protesto ainda registrado em cartório de R$ 3,4 mil.

Ocorre que, após quitar uma dívida por protesto, a parte que havia efetuado a inadimplência deve pagar também as taxas dos cartórios para retirar os registros das certidões positivas. E, até a última terça, o Corinthians ainda possuía os 89 calotes distribuídos pelos 10 tabeliães paulistas.

LIMPEZA, COMPUTAÇÃO, TRANSPORTE, EVENTOS, REFRIGERAÇÃO, BASQUETE…

Não acabaram por aí a série de calotes corintianos registrados em cartório ao longo de 2017. Empresas de computação, eventos, transportes, sistema corporativo, manutenção, limpeza, refrigeração e até a Federação Paulista de Basquete também cobram calotes do Corinthians. “Deve ser referente às taxas”, explicou uma funcionária da FPB.

 

TELHAS E JOGADORES

Nas últimas semanas,a reportagem do ESPN.com.br tem antecipado diversas ações de calotes movidas por terceiros na Justiça contra o Corinthians no último mês.

Primeiro, foi uma cobrança de R$ 1,2 milhão do SEV Hortolândia por Petros. Depois, entre 2 e 3 de maio, foi a vez do Coritiba pedir R$ 900 mil por Kazim, da Penapolense exigir R$ 1,7 milhão por Marlone e de novo o SEV Hortolância cobrar R$ 300 mil, agora por Vilson. A Justiça deu três dias para a equipe da capital quitar os últimos três valores, cobrados em menos de 24 horas.

Por fim, a Ferronor procurou o Poder Judiciário contra a falta de pagamento no fornecimento de telhas e outros equipamentos de construção ao Parque São Jorge. Existem dois protestos registrados em nome da empresa entre os 89 de tabeliães em cartório.

Por ESPN