Conflitos e desafios na fronteira dos EUA com o México
Primeiras ações de Trump incluem envio de tropas à fronteira sul e propostas que prometem mudar a dinâmica da região
A incerteza dos migrantes na fronteira
Milhares de migrantes permanecem próximos à fronteira entre o México e os Estados Unidos, na esperança de atravessar para o território americano. Entre eles está uma mulher, que prefere manter o anonimato por temer represálias. Ela deixou sua casa no sul do México após receber ameaças de sequestro contra ela e sua filha. Agora, refugiada em Ciudad Juárez, perto do Texas, ela enfrenta novos desafios.
“Não temos escolha, não podemos simplesmente começar do zero. Ainda estamos no México, e as gangues são muito poderosas por aqui”, desabafa.
Enquanto isso, do outro lado do Rio Grande, em El Paso, uma cidade americana de 680 mil habitantes, Aimée Santillán, especialista em políticas migratórias da organização católica Hope, analisa o contexto. “Restrições rigorosas não impediram a migração no passado. Se as pessoas não estão seguras em seus países, elas continuarão vindo, independentemente das regras”, explica.
Política de imigração endurece com Trump
No retorno à Casa Branca, Donald Trump colocou a segurança da fronteira sul no centro de sua agenda. Como parte de suas primeiras medidas no novo mandato, declarou estado de emergência na região, autorizando o envio de 1.500 militares e facilitando deportações em massa. O Congresso também aprovou leis que ampliam os poderes de detenção e deportação de imigrantes.
As novas políticas de Trump contrastam com as regras rígidas já implementadas por seu antecessor, Joe Biden, que proibiam solicitações de asilo para quem cruzasse a fronteira de maneira irregular. Embora essas normas tenham levado a uma redução de 60% nas travessias ilegais, o governo Biden buscou uma alternativa legal por meio do aplicativo CBP One, que permitia o agendamento de pedidos de asilo.
No entanto, Trump desativou o aplicativo em sua primeira semana de mandato, gerando instabilidade entre os migrantes. “Foi chocante ver o aplicativo ser desligado. Muitas pessoas, que já aguardavam há meses no México, perderam suas chances de solicitar asilo. Agora, não há uma forma clara de pedir ajuda na fronteira”, lamenta Santillán.
Novos decretos e reforço militar
As ações de Trump vão além do encerramento do CBP One. Um decreto emitido no dia de sua posse ordenou ao Departamento de Defesa e ao Departamento do Interior que colaborassem com governadores para a construção de novos trechos do muro na fronteira. A emergência declarada por Trump permite o uso de fundos sem aprovação prévia do Congresso.
Entre as prioridades do presidente está a mobilização de tropas para fortalecer a segurança. Cerca de 1.500 soldados foram enviados à fronteira, somando-se aos 2.500 militares já posicionados durante o governo Biden. Além disso, a Operação Lone Star, conduzida pela Guarda Nacional do Texas desde 2021, agora recebe apoio federal, conforme destacado por Trump.
Possível ampliação do uso militar
Apesar das limitações legais impostas pelo Posse Comitatus Act de 1878, Trump pode recorrer ao Insurrection Act de 1807, que permite o uso de militares em casos de emergência ou insurreição. Em seu decreto, o presidente solicitou uma análise dos secretários de Defesa e do Interior para avaliar, em até 90 dias, a necessidade de ativar essa lei.
Caso a medida seja implementada, as Forças Armadas poderiam realizar operações de deportação em larga escala. No entanto, Aimée Santillán acredita que as intenções de Trump enfrentam barreiras práticas. “Ele quer acabar com a imigração, mas isso é impossível. As pessoas continuarão vindo em busca de segurança e oportunidades”, avalia.
Enquanto isso, a tensão na fronteira sul cresce, e migrantes como a mulher em Ciudad Juárez permanecem em um limbo, entre o medo e a esperança de uma nova vida.
( Com DW )