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Como, quando e por que Brasil e África se separaram?

Durante milhões de anos, o Brasil e a África “cresceram juntos”, como irmãos siameses. Assim foi durante o período do supercontinente Pangeia, que unia todos os continentes da Terra, e depois com a divisão entre continente do norte, Laurasia, e do sul, Gondwana.

Àquela época, bastava caminhar em direção ao leste que, cedo ou tarde, estaríamos em solo africano, não havia o oceano Atlântico entre nós – não havia, portanto, praia no Brasil.

E cada vez mais Brasil e África avançam para lados opostos do globo terrestre. A novidade: em mais alguns milhões de anos, um novo supercontinente poderá se formar, mas, dessa vez, do outro lado da Terra.

A divisão dos continentes: como aconteceu?

A camada mais externa da Terra, que compreende os continentes e o solo dos oceanos, é composta de placas tectônicas que se movimentam sobre um manto interno de magma. Guardadas as proporções, é como se fossem boias flutuando em uma piscina gelatinosa. Esta movimentação é imperceptível aos olhos humanos, mas ao longo de milhões de anos é o que define a configuração de nosso planeta.

Entre 600 milhões e 200 milhões de anos atrás, essas placas formavam um supercontinente que abrangia tudo o que conhecemos hoje. A Pangeia, nome dado a esse gigantesco bloco de terra, ao longo do tempo seguiu se dividindo entre Laurásia (ao norte, unindo América do Norte, Europa e Ásia) e Gondwana (ao sul, com América do Sul, África, Antártida, Índia e Austrália).

Nesta eterna dança das placas tectônicas, os continentes sul e norte americanos se deslocaram para o oeste, enquanto as regiões que são hoje África, Europa e Ásia avançaram para o leste – Índia e Austrália rumaram em direção nordeste. Aproximadamente entre 105 e 130 milhões de anos atrás, o rompimento se confirmou.

Ou seja, África e América do Sul, consequentemente o Brasil, estavam separados para sempre – ou até uma eventual reversão do atual movimento das placas.

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Como as placas se mexem?

Miguel Basei, professor de Mapeamento Geológico do Instituto de Geociências da USP, explica que a tese mais aceita é a da convecção do manto magmático, abaixo da placa tectônica, que é a crosta mais superficial da Terra. “Há uma convicção da movimentação de porções ascendentes deste manto, com tendência a produzir movimentação do que está acima dele”, diz o geólogo.

O porquê das placas se moverem na direção que se movem ainda é um mistério, pouco se sabe sobre este manto magmático sob a superfície. Sabe-se para que lado as placas se direcionam e sua velocidade: a mais lenta é a Dorsal do Sudeste Indiano, que se move a 1,3 cm/ano, e a mais rápida é a placa Nazca (colada aos Andes), com trechos que chegam a 18,3 cm/ano.

“Há medida de deslocamento por satélites, que são bastante precisos”, explica Basei. “Sabemos que Brasil e África se afastam em direções leste e oeste, outras em direção norte e sul. Com essa modelagem de hoje, que demonstra justaposição, sabemos que a abertura da placa começou ao sul em direção ao norte, em torno de um polo de rotação”.

A placa onde estamos sediados é a Sul-Americana, que começa no meio do oceano Atlântico e vai até a Cordilheira dos Andes. Embaixo das águas do oceano, inclusive, há uma cadeia de montanhas submersa, na fronteira das duas placas.

“É uma cadeia meso oceânica, resultado da abertura do magma”, conta Basei. Ou seja, na ruptura das placas Sul-Americana e Africana enormes vulcões se formaram e uma quantidade imensa de lava se derramou sobre a superfície da Terra.

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Como era a Pangeia?

Todos os continentes unidos em um só. Parece refrão de música pacifista, mas aconteceu de verdade. Esta configuração perdurou por aproximadamente 400 milhões de anos, até que as placas se fragmentaram em Laurásia e Gondwana.

A teoria da separação dos continentes é recente. O geógrafo e meteorologista alemão Alfred Wegener publicou em 1915 o livro A Origem dos Continentes e Oceanos no qual descreve a teoria que seria conhecida como “deriva continental”. Sua tese foi ridicularizada à época e só recebeu o devido reconhecimento na década de 1950.

Continentes anteriores

Especula-se muito sobre como se formou o primeiro continente da Terra. Algumas linhas de interpretação, afirmam que, dos 4,5 bilhões de anos de nosso planeta, os últimos 3,6 bilhões já teriam pelo menos um pequeno pedaço de terra. Segundo essa tese, a superfície teria se formado a partir da lava expelida de vulcões submarinos.

“O que há de consenso na comunidade científica é a existência da Pangeia”, afirma Miguel Basei. Há também evidências fortes sobre seu predecessor, um supercontinente conhecido como Rodínia, entre um e dois bilhões de anos atrás. A Rodínia teria se dividido em oito fragmentos que iriam se encontrar milhões de anos depois e formar a Pangeia.

Antes disso, há apenas hipóteses pouco próximas de confirmação, explica o geólogo. O supercontinente Ur teria se formado há 3,1 bilhões de anos não seria tão super assim: seu tamanho especulado é menor que a Austrália. O mais antigo continente já especulado pelos cientistas é a Vaalbara, que teria tomado forma há 3,6 bilhões de anos – legitimam sua tese dois fragmentos de rocha da mesma família encontrados na África do Sul e na Austrália.

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Continentes futuros

Em aproximadamente 50 milhões de anos, um novo supercontinente deve se formar, resultado do encontro das Américas e da Ásia. Em ainda menos tempo, a Austrália irá também se chocar com a Ásia – se prevê que em 20 milhões de anos isso já ocorra. “É possível que em 100 milhões de anos, uma nova configuração esteja fechada”, especula Basei.

O movimento das Américas e da Ásia é contínuo desde a dissolução da Pangeia. Ou seja, América para o oeste e Ásia para o leste. Entre os dois continentes há inúmeras ilhas, algumas maiores, como as que compõem o Japão, e outras minúsculas, como as da Oceania. “Todas elas serão incorporadas. É comum a incorporação de terrenos exóticos nas costas continentais. No Brasil, algumas superfícies do sul do Paraná até Florianópolis são deste tipo”, esclarece o geólogo.

Semelhanças entre Brasil e África

As semelhanças entre Brasil e África são mais profundas que o recorte litorâneo de suas costas. O encaixe quase como de um quebra-cabeças dos dois litorais não é sequer o ponto que suscitou esta hipótese entre os cientistas.

Os primeiros sinais de similaridade foram pensados pelos naturalistas, baseados em formações rochosas semelhantes e, posteriormente, fósseis de animais e rastros de vegetação idêntica. “Há uma correlação clara entre os dois continentes. E também com a Antártida e a Índia”, afirma Basei.

Do ponto de vista paleontológico, essas semelhanças se apresentaram em fósseis de animais como peixes e répteis – dinossauros não constam destes fósseis – e em resíduos de flora, sobretudo as do tipo glossopteris, parente distante do que hoje chamamos de samambaias. Hoje, mais de 100 milhões de anos depois da separação, não há mais vegetação e vida animal compartilhadas entre os continentes.

Lava vulcânica

Quando as placas Sul-Americana e Africana se separaram, o chão se abriu. Literalmente. Assim, uma atividade vulcânica gigante se apresentou, derramando lava pelo oceano e pelos recém-independente continentes.

Uma das regiões tomadas pela lava localizadas no Brasil foi o enorme Deserto de Botucatu, onde a ruptura continental se deu. “Quando houve a separação, a placa se rachou de sul para o norte, partindo da Argentina”, explica o geólogo pesquisador da Mineropar Gil Francisco Piekarz.

Gil Piekarz explica que toda a região conhecida como Serra Geral tem solo de rochas magmáticas tipo basáltica, resultante daquela atividade vulcânica. Do outro lado do Atlântico, a Província Ígnea de Etendeka, na Namíbia, apresenta exatamente a mesma formação.

A Serra Geral representa o oeste de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, um trecho do Mato Grosso do Sul e porções de Argentina, Paraguai e Uruguai. “É gigante, pega tudo aquilo que entendemos como terra roxa”, explica. O resultado deste vulcanismo cobre uma superfície de 1.200.000 km², chegando a ter 1.500 metros de espessura, com superposição de mais de 50 camadas de derrame de lava.

Fóssil de ancestral mamífero

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Fósseis de répteis e peixes semelhantes foram encontrados no Brasil e na África. Mas o fóssil mais estudado na relação entre os dois continentes é o dos cinodontes. Trata-se de uma espécie de ancestral dos mamíferos que viveu aproximadamente há 240 milhões de anos e tem tamanho similar a de um cachorro de médio porte.

“Este animal lembra muito os cães atual, com diferenciação entre molares e caninos. Tem também presença de palato, que permite comer e respirar ao mesmo tempo”, afirma o paleontólogo Lúcio Roberto da Silva, professor da Ulbra-Cachoeira do Sul.

Ele explica que os cinodontes migravam muito e há registros deles em todos os continentes, exceto Austrália e Antártida. Contudo, cinodontes do mesmo gênero só foram vistos no Valle Luangwa, na Tanzânia, e em Dona Francisca, no Rio Grande do Sul. “Conseguiu-se identificar isso pelas características únicas deste gênero”, informa o professor.

Com VIX (conteúdo)