Como prefiro ser chamado – Por Dr. Gabriel Novis Neves
Em tom de brincadeira, uma seguidora do meu blog me perguntou a forma como, a partir de então, gostaria de ser chamado: de Magnífico, de Comendador ou somente de Gabriel?
Esse questionamento se deveu ao fato de ter sido alvo, por esses dias, de uma que outra deferência. Por curioso que seja, até da honra de comendador!
Sua ponderação se abriu com um bom-dia em francês: ‘Bonjour, monsier’!
Sem pestanejar, até mesmo sem consultar os astros, tasquei-lhe de pronto a resposta: Gabriel.
Meu sobrenome, caso venha a ser indispensável, ei-lo: Médico Parteiro de Cuiabá. A tal ofício dediquei dias e horas.
Sim, foi através da medicina. Sobretudo realizando partos, consegui amealhar títulos e comendas.
Centenas de gestantes que ‘acompanhei’ e crianças que ‘aparei’, me abriram as portas para essas manifestações de carinho. Sou mimoseado pela gente querida da minha pequena cidade à época, cidade onde descansam meus amores.
Tudo o que sou, devo aos meus pais que souberam me educar e me nomearam Gabriel. Talvez, despido de qualquer arrogância, eu tenha sido ‘enviado’ — esse o significado do nome Gabriel — para minorar um pouco da carência do povo desta terra.
Minha mulher, Regina, que me conheceu no Rio de Janeiro, foi coração e a alma da família que, com as bênçãos de Deus, constituímos.
Família que se multiplicou em filhos, netos e bisnetos do hoje Gabriel. Sinto-me por inteiro abençoado.
Quando me perguntavam por minha especialidade, não titubeava: ‘médico-parteiro’.
Médico-parteiro não apenas para “aparar crianças”. Também para municiar minha gente de ferramentas que imprimam o desenvolvimento sócio-econômico de nossa cidade e, por tabela, do Estado.
Nos lugarejos mais distantes, sou reconhecido como ‘Gabriel, parteiro de Cuiabá’.
Meu modo peculiar de trabalho inspirou muitos jovens a fazer medicina.
Eles ambicionavam ser ‘médicos parteiros’. Por qual motivo? Para poderem se deslumbrar com o fenômeno mais bonito da natureza: o nascimento de seres humanos.
Na medida do possível, participariam, por igual, do nosso desenvolvimento sócio-econômico e cultural.
Sim, no realizarem ‘partos’ e no idearem ‘universidades’ haveriam de ajudar a população mato-grossense.
No exercício das secretarias do Estado, cuidando do ensino fundamental e médio com seus Centros Educacionais.
Construindo hospitais universitários, lecionando aos jovens e socializando conhecimentos.
Em toda essa empreitada, sempre fui o mesmo Gabriel, médico parteiro.
Esse o modo como a mim sempre se dirigiram.
Assim ficou conhecido o ‘filho do dono de um bar’ e de uma mulher ‘de prendas domésticas’ que conquistou um sem-número de títulos beneméritos, todos em decorrência de sua luta em bem das causas mais nobres de seu povo.
Volto a meus pais.
Tudo devo a eles, que semearam em meu íntimo a convicção de que cabe só à educação, só a ela, transformar.
Assentado na identificação plena com minha gente, não lhes resta outra opção: continuem a me chamar de Gabriel. Em homenagem à educação, que nos irmana.
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