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Zona de treinamento dedicada à desativação de artefatos explosivos na Ucrânia — Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance

Com ajuda do Japão, Ucrânia intensifica remoção de minas em regiões de conflito

Empresas e pesquisadores japoneses apostam em drones, inteligência artificial e escavadeiras blindadas para livrar território ucraniano de dispositivos que ameaçam a população e contaminam o solo

País asiático lidera esforços internacionais com drones, escavadeiras blindadas e inteligência artificial para acelerar desminagem e preservar vidas

O Japão tem desempenhado um papel estratégico na reconstrução da Ucrânia ao combinar diplomacia ativa e soluções tecnológicas avançadas na tentativa de eliminar um dos maiores legados da guerra: cerca de 2 milhões de minas terrestres espalhadas por um quarto do território ucraniano. Esses artefatos explosivos representam não apenas uma ameaça direta à população civil, mas também um entrave à recuperação econômica, sobretudo em regiões agrícolas essenciais para o país.

Iniciativas multilaterais e protagonismo diplomático

Como parte de sua agenda internacional, o Japão sediará ainda este ano um workshop global voltado à desminagem em territórios afetados pelo conflito. Além disso, será o anfitrião da 22ª conferência da Convenção de Ottawa, que proíbe a produção, armazenamento e uso de minas antipessoais. O evento acontecerá em dezembro, na sede das Nações Unidas, em Genebra.

Enquanto articula alianças diplomáticas, o governo japonês também avança em parcerias técnicas com empresas e instituições acadêmicas para implementar soluções que unam inovação e métodos convencionais de desativação de explosivos.

Escavadeiras blindadas e ajuda humanitária

Um dos destaques da cooperação japonesa é a atuação da Komatsu, gigante da indústria de equipamentos pesados com sede em Tóquio. A empresa tem experiência acumulada desde 1999 em ações de desminagem no Camboja, e posteriormente no Laos, Afeganistão e Angola. Em 2023, o Japão enviou à Ucrânia quatro escavadeiras Komatsu blindadas, projetadas para detonar minas diretamente no solo, sem necessidade de remoção manual.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Japão, a retirada desses dispositivos é considerada essencial não apenas para garantir a segurança de civis, mas como pré-requisito para os esforços de reconstrução nacional. Como parte desse apoio, estagiários do serviço de emergência ucraniano foram capacitados no Japão e posteriormente enviados ao Camboja para treinamento prático.

Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, o Japão já destinou cerca de 91 bilhões de ienes (aproximadamente R$ 3,5 bilhões) em auxílio à Ucrânia, respeitando os limites impostos pela sua Constituição, que restringe o envio de armamentos. A ajuda tem sido concentrada em equipamentos médicos, coletes balísticos e infraestrutura humanitária.

Robótica e inteligência artificial no campo de batalha

Ao lado das estratégias tradicionais, pesquisadores japoneses têm apostado em novas tecnologias. Hideyuki Sawada, professor da Universidade Waseda, em Tóquio, lidera uma pesquisa que utiliza drones equipados com câmeras infravermelhas e inteligência artificial para detectar minas enterradas. Os sistemas são treinados para identificar padrões térmicos emitidos por componentes metálicos e plásticos, mesmo sob camadas de solo.

“Estamos ensinando os robôs a se comportarem como humanos usando aprendizado de máquina e alimentando-os com centenas de imagens de minas”, explicou Sawada em seminário promovido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Segundo ele, os algoritmos atingiram até o momento uma taxa de acerto de 95% na identificação de explosivos subterrâneos, embora variáveis como temperatura, umidade e tipo de solo ainda apresentem desafios técnicos.

A equipe coleta dados diretamente da Ucrânia e continua aprimorando o modelo, mas a diversidade de artefatos explosivos no país – mais de 100 tipos distintos – torna o processo mais complexo.

Urgência para proteger as futuras gerações

Sawada defende a importância de aplicar a tecnologia em cenários reais, mesmo que ainda em fase de aprimoramento. “Acreditamos que é fundamental testar em campo para acelerar o desenvolvimento da solução e evitar mais tragédias”, disse. Ele ressalta que cerca de 40% das vítimas de minas são crianças, geralmente atingidas enquanto brincam em áreas contaminadas.

“Mesmo após o fim da guerra, as minas continuarão lá. Nosso dever é agir agora para impedir que uma nova geração cresça sob essa ameaça”, concluiu o pesquisador, destacando o papel de diversas empresas e organizações japonesas comprometidas com a causa.

( Com DW )