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Colegas preveem dificuldades para Delcídio na volta ao Senado

Advogado diz que senador deve voltar às atividades já na segunda-feira.
Para senadores de governo e oposição, retorno causará constrangimento.

Gustavo Garcia

Do G1, em Brasília

O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) conversa Delcídio do Amaral (PT-MS) durante sessão no Senado, em abril de 2015 (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) conversa Delcídio do Amaral (PT-MS) durante sessão no Senado, em abril de 2015 (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

O senador Delcídio do Amaral (MS) vai encontrar um cenário complicado na volta às atividades no Senado. Pelo menos é o que projetam colegas de Delcídio ouvidos pelo G1. Os parlamentares preveem que o ex-líder do governo passará por “constrangimento” ao longo dos compromissos legislativos e sofrerá desgaste na defesa do mandato em processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa.

Na sexta-feira (19), instantes antes deDelcídio deixar a prisão no 1º Batalhão de Trânsito da Polícia Militar do Distrito Federal (1º BPTran), Luís Henrique Machado, um dos advogados do senador, afirmou que Delcídio voltaria às atividades no Senado já na próxima segunda-feira (22).

O senador ficou quase 90 dias preso preventivamente por ter tentado, de acordo com a Procuradoria Geral da República (PGR), atrapalhar as investigações da operação Lava Jato. A prisão de Delcídio foi revogada pelo ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato noSupremo Tribunal Federal (STF).

Para o senador Acir Gurgacz (RO), líder do PDT – partido da base aliada ao governo –, o ideal seria Delcídio solicitar licença das atividades parlamentares.

“Eu acho que não tem um clima bom para o Delcídio retornar ao Senado. Eu, se fosse ele, pediria licença por alguns meses e depois retornaria. Vejo a volta dele com muita dificuldade por tudo que aconteceu, tudo que tem que ser explicado”, afirmou Gurgacz. “Vai ser um constrangimento para ele e para os demais senadores”, completou o líder do PDT.

Na mesma linha, o senador da oposição Agripino Maia (DEM-RN), disse que Delcídio terá de lidar com uma situação “esquisita” na volta aos trabalhos.

“A situação em que ele voltará ao Senado será diferente da que ele deixou. Ele vai enfrentar um cenário atípico, uma situação esquisita, a que o Senado nunca assistiu”, projetou. “Agora, eu quero saber como ele será recebido pelo PT, o partido dele. Qual será atitude do PT com relação ao Delcídio?”, questionou Agripino.

No dia da prisão de Delcídio, em novembro de 2015, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgou nota na qual dizia que o partido não se via obrigado a qualquer “gesto de solidariedade” a Delcídio, porque considerou que “nenhuma das tratativas atribuídas ao senador têm qualquer relação com sua atividade partidária”.

A nota se refere à gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor daPetrobras Nestor Cerveró, em que Delcídio aparece oferecendo dinheiro, apoio junto a ministros do STF e um plano de fuga a Nestor Cerveró para que ele omitisse o nome de Delcídio durante delação premiada.

A postura do PT foi lembrada nesta sexta-feira pelo líder do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira (CE). Para Eunício, a nota de Rui Falcão foi determinante para que o plenário do Senado desse aval à prisão de Delcídio decretada pelo STF.

O G1 tentou, mas não conseguiu contato com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), até a última atualização desta reportagem. Delcídio do Amaral está suspenso do PT por tempo indeterminado.

O senador Eunício de Oliveira também classificou a volta de Delcídio às atividades no Senado como “uma situação muito difícil” e lembrou que o ex-líder do governo ainda precisa enfrentar um desgastante julgamento no Conselho de Ética da Casa. “Ser solto não o libera do processo no Conselho de Ética”.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos autores da representação em desfavor de Delcídio no Conselho de Ética, disse que a situação de Delcídio é “incompatível com o decoro parlamentar” e quer que o processo de cassação do ex-líder do governo seja mais célere.

“O Delcídio pode até achar, na consciência dele, que não tem nada de errado, que é inocente, mas as circunstâncias são graves. Um senador volta à atividade, mas continua na condição de preso domiciliar. Não podemos ficar como se nada tivesse acontecido”, disse Randolfe.

Os advogados de Delcídio do Amaral já protocolaram uma defesa prévia no Conselho de Ética. Eles alegam que as acusações contra o senador são insuficientes e que a gravação usada como prova foi obtida de maneira ilegal. Além disso, os advogados argumentam que, na conversa gravada, Delcídio não estava atuando como parlamentar e, por isso, a representação no Conselho de Ética não teria sentido.

A defesa pede ainda o impedimento do relator, Ataídes de Oliveira (PSDB-TO), argumentando que, por ser da oposição, Ataídes não tem isenção para ocupar o cargo. Se o colegiado atender ao pedido da defesa, pode haver um atraso no processo, pois será necessário escolher um novo relator por meio de sorteio.

Procurado pelo G1, o presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto (PMDB-MA), disse que a revogação da prisão de Delcídio “em nada altera o processo contra o ex-líder do governo”. Questionado sobre o clima que Delcídio encontrará no Senado, João Alberto não quis comentar.