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Relatos da imprensa dos EUA indicam que o cessar-fogo começou após exigência do Irã para suspensão dos ataques israelenses. Foto: Nikan/Middle East Images/picture alliance

Cessar-fogo entre Israel e Irã: trégua frágil e muitas perguntas sem resposta

Com acusações mútuas e ameaças de retaliação, cessar-fogo entre os dois países parece longe de representar uma paz definitiva

O anúncio de um cessar-fogo entre Israel e Irã, feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na noite de segunda-feira (23), trouxe um breve alívio ao temor de uma guerra regional de grandes proporções. A iniciativa, que ocorre dias após ataques israelenses a instalações nucleares iranianas, marca um dos momentos mais delicados da política externa americana em meio ao atual conflito.

No entanto, o futuro do pacto permanece incerto. Ainda nas primeiras horas após sua divulgação, o acordo já mostrava sinais de fragilidade, levantando dúvidas sobre sua durabilidade e real capacidade de encerrar as hostilidades.

Um Acordo Sob Pressão: As Primeiras Violações

Relatos iniciais de agências internacionais indicaram que, por volta das 4h de terça-feira (horário local), os combates entre os dois países haviam cessado. Contudo, ao amanhecer, a tensão ressurgiu com força. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, acusou Teerã de violar o cessar-fogo ao realizar novos lançamentos de mísseis. O governo iraniano, por sua vez, negou as acusações.

Em resposta, a Força Aérea de Israel bombardeou uma estação de radar no território iraniano. A ação provocou reação imediata de Trump, que, por meio de suas redes sociais, fez advertências públicas a ambos os lados. “Israel, não jogue suas bombas. Se fizer isso, será uma grande violação. Traga seus pilotos para casa, agora!”, escreveu o presidente norte-americano.

Em declarações posteriores a jornalistas, Trump reforçou o tom de reprovação. “Não estou satisfeito com Israel. Também não estou com o Irã, mas, neste momento, realmente não estou feliz com Israel. Israel precisa se acalmar, e cabe a mim garantir isso”, disse.

A pressão de Washington surtiu efeito imediato. O governo israelense, após uma ligação direta de Trump ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, decidiu cancelar um ataque de maior escala contra Teerã e ordenou o retorno de suas aeronaves.

Termos do Cessar-fogo Seguem Incertos

Os detalhes do acordo de cessar-fogo ainda não foram oficialmente divulgados. Até o momento, sabe-se apenas que a iniciativa foi confirmada por ambos os governos. Na manhã de terça-feira, Netanyahu afirmou que Israel concordou com uma trégua, em coordenação com a Casa Branca.

Do lado iraniano, o Conselho Supremo de Segurança Nacional também confirmou o pacto, descrevendo-o como uma “derrota para Israel”.

Segundo as informações publicadas por Trump em suas redes sociais, o cronograma prevê que o Irã suspenda as hostilidades nas primeiras 12 horas após o anúncio, com Israel seguindo a trégua nas 12 horas subsequentes. Após esse período de 24 horas, será oficialmente declarado o fim do conflito iniciado em 13 de junho, após o ataque israelense a instalações nucleares iranianas.

Bastidores da Negociação: Papel-chave do Catar e da Diplomacia Paralela

De acordo com o jornal The Washington Post, a retomada das negociações foi condicionada por uma proposta iraniana: Teerã aceitaria voltar à mesa de diálogo sobre seu programa nuclear se Israel interrompesse os bombardeios. Caberia, então, aos Estados Unidos obter essa garantia junto ao governo israelense.

Fontes da Casa Branca relataram à agência AP que Trump falou diretamente com Netanyahu para assegurar o cumprimento do cessar-fogo. Paralelamente, o vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o enviado especial Steve Witkoff mantiveram contatos com representantes iranianos, utilizando canais diretos e indiretos.

O Catar teve um papel decisivo na mediação. Segundo fontes ouvidas pela Reuters, o primeiro-ministro catariano, xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, foi fundamental para convencer Teerã. Em agradecimento, Trump manteve contato telefônico com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani.

Segundo autoridades americanas, Israel concordou com a trégua desde que o Irã cessasse novos ataques, enquanto os iranianos sinalizaram disposição para interromper as hostilidades, diante do cenário de vulnerabilidade militar em que se encontravam.

Reações e Próximos Passos: O Futuro do Programa Nuclear Iraniano

Até o momento, não há indicações concretas de que novas rodadas de negociações sobre o programa nuclear iraniano estejam programadas. Especialistas apontam que, mesmo com a trégua, o diálogo entre Irã e potências ocidentais deverá ser longo e difícil.

Mohammed Eslami, chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, afirmou à emissora estatal IRIB que o país continuará a produção de material nuclear, apesar dos recentes ataques sofridos. A extensão dos danos causados por Israel e pelos Estados Unidos às instalações nucleares ainda está sendo avaliada.

Outra incógnita envolve o destino das cerca de 400 toneladas de urânio enriquecido que o Irã possui. Fontes consultadas por agências internacionais acreditam que o estoque pode ter sobrevivido à ofensiva aérea.

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, anunciou ter enviado uma carta ao ministro iraniano Abbas Araqchi, propondo uma reunião urgente para discutir os próximos passos. Grossi destacou que a retomada da cooperação iraniana com a AIEA poderá abrir caminho para uma solução diplomática duradoura.

Enquanto isso, o governo iraniano mantém sua posição de que não busca a obtenção de armas nucleares, declaração contestada por autoridades americanas. Em entrevista à Fox News, o vice-presidente dos Estados Unidos reiterou que “o Irã esteve muito próximo de ter uma arma nuclear”.

Trump, por sua vez, sustentou que os bombardeios americanos tinham como único objetivo neutralizar o programa nuclear iraniano, afastando a intenção de provocar uma guerra de maior escala. Apesar disso, relatórios de inteligência divulgados anteriormente pelas próprias agências americanas indicam que, até o início deste ano, o Irã não estava construindo uma arma nuclear — uma avaliação que, segundo fontes da Reuters, permanece inalterada até o momento.

( Com DW )