Casos de coqueluche no Brasil atingem maior patamar em nove anos
Estados como Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais registraram os maiores aumentos nos casos da doença em 2024.
O Brasil registrou em 2024 o maior número de casos de coqueluche desde 2015. Dados do Ministério da Saúde revelam que os casos confirmados saltaram de 214, em 2023, para 5.998 no último ano, representando um aumento expressivo de 2.702%.
A coqueluche, conhecida também como tosse comprida, é uma doença infecciosa de alta transmissibilidade causada pela bactéria Bordetella pertussis. A infecção ocorre, em sua maioria, por meio de gotículas expelidas durante a fala, tosse ou espirro de pessoas infectadas. Em casos menos frequentes, o contágio pode se dar pelo contato com objetos contaminados por secreções respiratórias.
Os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais se destacaram como os que tiveram os maiores aumentos percentuais de casos entre 2023 e 2024. O Paraná registrou uma explosão no número de notificações, que passaram de apenas 16 casos em 2023 para impressionantes 2.423 casos em 2024.
Medidas de controle e contenção
As secretarias de saúde de Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro detalharam à reportagem as ações implementadas para conter a disseminação da doença. Entre as medidas comuns estão a intensificação da vacinação, campanhas de conscientização e treinamentos para profissionais da saúde visando o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
Além disso, foram reforçadas orientações sobre medidas preventivas, como isolamento de casos suspeitos, boa higiene respiratória, ventilação dos ambientes e uso de máscaras.
Cada estado também adotou estratégias específicas:
- Santa Catarina ampliou o uso de testes de PCR no Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) para acelerar o diagnóstico.
- No Paraná, foi priorizada a vacinação de profissionais de saúde e educação que trabalham diretamente com gestantes e crianças pequenas.
- O Rio de Janeiro lançou a campanha “Vai de Vacina, Não Vacila”, em parceria com o Unicef, para conscientizar jovens pais sobre a importância da imunização.
Retorno de mortes após três anos sem registros
Em 2024, o Brasil voltou a registrar mortes por coqueluche após três anos sem óbitos. Foram notificadas 27 mortes, a maioria em bebês com menos de um ano, grupo etário mais vulnerável à doença. O último registro de óbito havia ocorrido em 2020, com apenas um caso.
De acordo com o Ministério da Saúde, a vacinação continua sendo a principal forma de prevenção. “A vacina disponibilizada pelo SUS protege contra a infecção por até 20 anos e também evita a transmissão da bactéria por pessoas vacinadas”, destaca o órgão.
O esquema vacinal oferecido pelo SUS inclui:
- Vacina pentavalente: administrada em três doses para crianças menores de um ano, com início aos dois meses de idade.
- Vacina DTP (difteria, tétano e coqueluche): aplicada como reforço aos 15 meses e novamente aos quatro anos.
- Vacina dTpa: recomendada para gestantes a partir da 20ª semana de gestação, além de profissionais de saúde e parteiras tradicionais.
Até o início de janeiro de 2025, o Brasil havia aplicado mais de 6,6 milhões de doses da vacina pentavalente, 3,93 milhões da DTP e 2,4 milhões da dTpa.
Fatores para o aumento dos casos
O crescimento expressivo dos registros de coqueluche está ligado a diversos fatores, como a redução da cobertura vacinal, a maior capacidade de diagnóstico e a retomada das atividades após o fim das restrições relacionadas à pandemia de Covid-19.
Segundo Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunização do Hospital Israelita Albert Einstein, “a coqueluche é uma doença altamente transmissível, e interromper sua cadeia de transmissão exige taxas de vacinação superiores a 95%”.
Ele explica que o Brasil enfrenta uma queda na cobertura vacinal desde 2016, agravada durante a pandemia. “Embora tenha havido alguma recuperação nos últimos anos, ainda estamos longe do ideal, inclusive para a coqueluche”, ressalta Gilio.
O especialista também menciona as dificuldades logísticas, como o horário limitado de funcionamento de unidades de saúde, que prejudicam o acesso de pais ao sistema de vacinação.
Além disso, o “paradoxo das vacinas” — em que o sucesso das campanhas leva à subestimação dos riscos das doenças — e a disseminação de informações falsas sobre imunizantes também contribuem para o cenário.
Recomendações e alerta da OMS
A OMS (Organização Mundial da Saúde) classifica a coqueluche como uma doença grave, especialmente perigosa para crianças menores de um ano e pessoas não vacinadas.
Medidas simples, como cobrir a boca ao tossir, lavar as mãos frequentemente e evitar contato próximo com indivíduos doentes, podem ajudar a reduzir a transmissão.
O Ministério da Saúde reforça a necessidade de manter os esquemas vacinais em dia e ampliar a conscientização sobre a importância da imunização, sobretudo para grupos mais vulneráveis.
Da Redação/R7