Candidato Favorito nas Eleições Americanas: 80 mil simulações revelam uma diferença de 0,36 ponto
Ainda assim, deve-se considerar que imprevistos podem surgir, caso as pesquisas incorporadas nos modelos apresentem erros de margem
Esta é a eleição mais acirrada da história americana, um fato que o leitor já deve estar ciente. Literalmente, tanto a candidata democrata Kamala Harris quanto o republicano Donald Trump têm a possibilidade de se tornarem o 47º presidente dos Estados Unidos. No entanto, ao executar os modelos de previsão, que consideram uma vasta gama de pesquisas, parâmetros demográficos, resultados de votações anteriores, temas relevantes da campanha, partidos que governam os estados, além da aprovação dos candidatos e do governo federal, um “favorito” sempre emerge. Aspas intencionais e categóricas. A seguir, explicaremos o motivo.
Nate Silver é um dos mais respeitados estatísticos eleitorais dos Estados Unidos. Ele construiu sua carreira e reputação por meio do blog independente FiveThirtyEight (538 em inglês, número total de delegados no Colégio Eleitoral), que foi incorporado ao New York Times em 2010. Em 2013, Silver transferiu seu hub de previsões e estatísticas para a ESPN e, posteriormente, para a ABC News, de onde saiu em 2023 após vender o produto. Atualmente, ele lidera o Nate Silver Bulletin.
Utilizando um modelo sofisticado que agrega pesquisas, parâmetros quantitativos e qualitativos, além de probabilidades, Nate Silver é objeto de atenção constante (e não apenas durante as eleições: seu trabalho também é um sucesso no universo das apostas esportivas). O estatístico concluiu suas análises de probabilidade de vitória na corrida pela Casa Branca quando o relógio marcou meia-noite desta segunda-feira, momento em que pressionou a tecla Enter em seu computador.
Foram realizadas 80 mil simulações de resultados para a eleição que se encerraria naquela noite. Em 40.012 delas, Kamala Harris é apresentada como a vencedora, obtendo a maioria dos votos no Colégio Eleitoral. Donald Trump foi declarado vencedor em 39.718 das simulações. Em 270 casos, ocorreu um empate (269 delegados do Colégio Eleitoral para cada um; são necessários 270 para conquistar a Casa Branca). Dado que, neste cenário, a legislação americana determina que a Câmara dos Deputados decidirá o presidente — a qual atualmente possui uma maioria republicana —, isso implica que Trump foi considerado vencedor em 39.988 das simulações.
Agregadores de pesquisa dos EUA
Ao todo são 538 delegados no colégio eleitoral
Ajustados para a margem de erro, os dados de Nate Silver indicam que a probabilidade de Kamala Harris vencer a disputa é de 50,015%, enquanto a de Donald Trump é de 49,647%. Uma diferença de apenas 0,368 ponto percentual. “Da perspectiva do modelo, a corrida é literalmente mais apertada do que uma disputa de cara ou coroa: empiricamente, cara vence em 50,5% das vezes, superando os 50,015% de chance de Harris”, escreveu Nate Silver em sua última newsletter antes do início da apuração.
Ele não está sozinho em suas análises. Seu antigo blog, FiveThirtyEight, chegou a resultados semelhantes. Após realizar 1.000 simulações, Kamala Harris saiu vitoriosa em 503 delas, enquanto Trump obteve sucesso em 492. Em dois exercícios, houve empate. Em termos práticos, isso significa que a democrata possui 50% de chance de conquistar a Casa Branca, enquanto o republicano tem 49%.
Outro renomado analista eleitoral, o cientista político Larry Sabato, utiliza um monitor de eleições chamado Crystal Ball (Bola de Cristal). Embora não calcule probabilidades estatísticas, ele emprega os mesmos parâmetros para classificar os estados americanos como sólidos, prováveis ou inclinados a favorecer os democratas ou os republicanos. Na classificação final de 2024, divulgada nesta terça-feira, Sabato afirma que os chamados Blue Wall States — Michigan, Wisconsin e a joia da coroa, Pensilvânia — estão inclinados a votar em Kamala Harris. Caso essa previsão se confirme, a democrata estaria eleita.
Contudo, a realidade é que tudo é possível. A precisão das pesquisas integradas nos modelos pode falhar na margem, seja por não terem conseguido entrevistar um número suficiente de eleitores de Trump, por não estimarem corretamente o comparecimento às urnas de segmentos do eleitorado, ou ainda por não captarem adequadamente a proporção de jovens, negros e latinos que se deslocaram para o candidato republicano, o que poderia garantir o retorno do ex-presidente a Washington, DC.
De fato, outro destacado analista de pesquisas e tendências eleitorais dos Estados Unidos, o repórter sênior Nate Cohn, do New York Times, observou que a polarização, a divisão e a movimentação dos eleitores tradicionais de cada partido estão em níveis tão elevados que quatro cenários são absolutamente possíveis para esta eleição (e todos refletirão de maneira clara a dinâmica da corrida eleitoral quando se concretizarem).
Existem os cenários em que Kamala ou Trump vencem, com margens mais amplas do que as sugeridas pelas pesquisas. Ambos os resultados dependem da quantidade de eleitores negros, jovens e latinos (tradicional base democrata) que podem migrar para Trump, assim como da proporção de eleitores mais velhos e brancos com nível superior (base republicana) que podem optar por Kamala, além de qual conjunto de questões prevalecerá nas mentes e corações dos americanos: a economia, a imigração e o descontentamento com o presidente Joe Biden de um lado; e o direito reprodutivo das mulheres, a defesa da democracia e a aversão ao populismo radical do outro.
Nos dois cenários restantes, a eleição se revelará realmente acirrada, como as pesquisas indicam, com determinados segmentos do eleitorado ou até mesmo alguns condados decidindo a corrida por margens de apenas alguns milhares de votos.
Em suma, tudo pode acontecer na noite de hoje e nos dias seguintes, uma vez que é impossível prever com precisão quando cada estado encerrará sua contagem de votos. A única certeza é que tanto os americanos quanto o resto do mundo precisarão de total paciência até que um vencedor seja projetado.
Com Flávia Barbosa / O GLOBO