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Campeonato Brasileiro enfrenta crise na arbitragem já na segunda rodada

Apenas duas rodadas após o início da Série A, o Campeonato Brasileiro já enfrenta uma crise relacionada à arbitragem.

Erros considerados graves, reclamações públicas e afastamentos de árbitros marcaram os jogos disputados no último fim de semana (5 e 6 de abril), levando a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) a tomar medidas emergenciais.

Segundo comunicado da entidade, o grupo responsável pela análise das partidas “constatou equívocos cometidos pelos profissionais” nos confrontos entre Internacional e Cruzeiro, em Porto Alegre, e Sport e Palmeiras, no Recife. Em decorrência disso, tanto as equipes de arbitragem de campo quanto as do VAR foram afastadas.

A situação representa um início conturbado para a nova Comissão de Arbitragem da CBF, reformulada em fevereiro e agora sob coordenação do ex-árbitro Rodrigo Martins Cintra. Ele substituiu Wilson Luiz Seneme, demitido após críticas ao desempenho da arbitragem nacional. A equipe é composta ainda por Luiz Flávio de Oliveira, Marcelo Van Gasse, Fabrício Vilarinho, Luis Carlos Câmara Bezerra, Eveliny Almeida e Emerson Filipino Coelho.

O grupo tem o respaldo técnico do CCEI (Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais), formado por nomes de peso como Néstor Pitana (Argentina), Nicola Rizzoli (Itália) e Sandro Meira Ricci (Brasil), todos com experiências em Copas do Mundo. Cabe ao comitê a análise técnica dos jogos e a elaboração de relatórios.

“Infelizmente, existem momentos de instruir, de coibir e também de afastar. Neste momento, a Comissão de Arbitragem afasta para instrução as equipes das partidas em que, na visão do CCEI, houve equívocos. O afastamento não é simplesmente uma punição vazia, é para que possamos cuidar dos árbitros, instruí-los”, declarou Cintra.

Erros com impacto direto no resultado

As duas partidas citadas pela confederação foram diretamente influenciadas por decisões contestadas dos árbitros.

No Beira-Rio, o Cruzeiro ficou com um jogador a menos aos 20 minutos do primeiro tempo, após a expulsão de Jonathan Jesus por uma suposta falta em Wesley. Ex-árbitros que atuam como comentaristas de TV e o próprio comitê da CBF consideraram a expulsão equivocada. Com vantagem numérica, o Internacional venceu por 3 a 0. O árbitro da partida foi Marcelo de Lima Henrique (CE), e a responsável pelo VAR foi Daiane Muniz (SP), que afirmou: “Marcelo, cartão vermelho muito bem aplicado”.

Já na Arena de Pernambuco, o confronto entre Sport e Palmeiras foi decidido nos acréscimos com um pênalti controverso marcado após disputa entre Raphael Veiga e Matheus Alexandre. A penalidade, convertida por Veiga, garantiu a vitória palmeirense por 2 a 1. Até o ex-goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras, discordou da marcação: “Eu prefiro perder do que ganhar com um pênalti desses. É constrangedor”.

O árbitro principal foi Bruno Arleu de Araújo (RJ), com Rodrigo Nunes de Sá (RJ) no VAR, que justificou a penalidade ao enxergar “um calço”. A decisão gerou forte reação do meia Lucas Lima, do Sport: “O árbitro estragou o jogo, decidiu para eles”.

Regras novas e críticas à condução

A polêmica foi amplificada por um ofício recente da CBF enviado a clubes e federações, que proíbe um gesto considerado provocativo: subir com os dois pés sobre a bola. A infração passa a ser punida com cartão amarelo. “Trata-se de um jogador subir na bola com os dois pés, com o intuito de provocação à equipe rival”, justificou Cintra, no documento. Leia mais sobre as novas regras da arbitragem

O gesto foi utilizado por Memphis Depay, do Corinthians, na final do Campeonato Paulista contra o Palmeiras, no último dia 27. No sábado (6), o holandês foi alvo de duas decisões questionadas da arbitragem, com dois gols anulados e uma entrada dura não marcada como falta. Mesmo assim, o Corinthians venceu por 3 a 0. O árbitro Anderson Daronco (RS) e o VAR Rodrigo D’Alonso Ferreira (SC) não intervieram na jogada que deixou Memphis com o tornozelo inchado, fazendo com que ele fosse cortado da viagem à Colômbia, onde o time enfrentará o América de Cali pela Sul-Americana nesta terça (8).

“O VAR viu tudo”, ironizou o jogador em publicação nas redes sociais. “Era falta para cartão vermelho, mas, em vez de ver isso, eles preferem fazer regras como a de não subir na bola. O Brasil é o país do futebol, e futebol não se joga só com os pés, joga-se com a mente. Eles têm que fazer um trabalho melhor.”

Medidas de emergência e pressões políticas

Em resposta às críticas, a CBF anunciou uma jornada de treinamentos para árbitros, marcada para o dia 14 de abril, no Rio de Janeiro. As atividades ocorrerão no Clube da Aeronáutica e no Centro de Excelência da Arbitragem Brasileira (CEAB), e incluem exercícios físicos e técnicos. “Vamos trabalhar no campo para produzir resultados positivos”, afirmou Alício Pena Júnior, coordenador do CEAB.

A iniciativa surge em meio a denúncias de má gestão. Uma reportagem da revista piauí revelou que, apesar da receita superior a R$ 1 bilhão, a CBF arquivou um projeto de R$ 60 milhões para construção de um centro de treinamento específico para árbitros, enquanto o presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, aumentava seus próprios gastos institucionais. Veja a reportagem da revista piauí sobre os gastos da CBF

A terceira rodada da Série A começa já no dia seguinte ao treinamento, em 15 de abril, com expectativa de que as medidas adotadas possam mitigar a crise e restaurar a confiança no trabalho da arbitragem nacional.