Câmara começa a traçar destino de Cunha: conheça a ‘tropa de choque’ por trás das manobras para salvá-lo
O Conselho de Ética da Câmara iniciou nesta terça a discussão do relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que recomenda a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Casa.
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Imagem Capa Agência Brasil
O Conselho de Ética da Câmara iniciou nesta terça a discussão do relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que recomenda a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Casa.
Espera-se que a votação ocorra nesta quarta. O placar no colegiado está apertado, e os aliados do peemedebista trabalham para emplacar uma punição mais branda, como uma suspensão temporária.
Cunha é acusado de mentir ao ter negado à CPI da Petrobras ser dono de contas no exterior. Ele nega e argumenta que os recursos depositados na Suíça têm origem lícita e são geridos por trusts – ou seja, que é apenas beneficiário do dinheiro.
Apesar do grande desgaste em torno do peemedebista, que hoje responde a uma ação criminal da Operação Lava Jato no STF, o processo contra ele já é o mais longo da história do Conselho de Ética.
Segundo seus opositores, isso decorre de uma série de manobras impetradas por ele e seus aliados – a sessão desta terça, por exemplo, acabou interrompida no início da tarde. Já os que defendem Cunha dizem que agem apenas para garantir o amplo direito à defesa.
Saiba quem são alguns dos líderes da “tropa de choque” do deputado e o que eles têm feito para tentar salvá-lo:
Waldir Maranhão (PP-MA)

O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão é aliado fiel de Cunha e tem tomado diversas decisões em seu benefício desde quando era o vice-presidente da Casa – Imagem AG. SENADO
Ainda no ano passado, Maranhão acatou recurso apresentado por outro aliado de Cunha, o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), para destituir o primeiro relator da denúncia no Conselho de Ética, deputado Fausto Pinato (PP-SP). Depois de muita polêmica, Marcos Rogério (DEM-RO) acabou escolhido como novo relator, o que provocou atraso no andamento do caso.
Em outra ação favorável ao peemedebista, Maranhão decidiu restringir a análise do Conselho de Ética apenas à discussão de que Cunha mentiu à CPI da Petrobras – excluindo assim do processo acusações de recebimento de propina.
Na jogada mais recente para tentar evitar a cassação, Maranhão pediu à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara que se manifeste sobre como o plenário deve analisar a situação de Cunha após a decisão do Conselho de Ética.
Segundo opositores do peemedebista, seja qual for a decisão do conselho, o veredito final sobre a cassação cabe ao plenário da Casa.
No entanto, o deputado Arthur Lira (PP-AL) deu um parecer que pode evitar esse desfecho – nesta tarde, a CCJ vota se aprova ou não essa interpretação.
Arthur Lira (PP-AL)

Arthur Lira foi presidente CCJ, comissão mais importante da Câmara, no ano passado. Ele conseguiu o cargo, com aval de Cunha, após ter o apoiado na eleição para o comando da Câmara – Imagem AG. CÂMARA
Agora, como integrante da comissão, pediu para relatar a consulta de Maranhão sobre o andamento do processo contra Cunha no plenário. Todas as suas respostas foram favoráveis ao peemedebista.
Em seu parecer, Lira defende a apresentação ao plenário de um projeto de resolução, e não do relatório elaborado pelo Conselho de Ética sobre o pedido de cassação de Cunha. Além disso, também estabelece que, caso o projeto seja rejeitado, ele deverá ser arquivado, com a “consequente absolvição do parlamentar processado”.
Se seu parecer for aprovado na CCJ, opositores de Cunha podem recorrer ao Supremo Tribunal Federal para reverter a decisão.
Carlos Marun (PMDB-MS)

O deputado tem sido um dos mais ativos na defesa de Cunha no Conselho de Ética. Ele é suplente, mas pode ser que vote caso a deputada Tia Eron (PRB-BA) se ausente. – Imagem AG. CÂMARA
Ela foi colocada como integrante titular do conselho por ser aliada de Cunha, mas estaria acuada pela grande pressão que vem sofrendo para votar contra ele. Seu voto é considerado o fiel da balança na votação, já que a julgar pelo posicionamento dos demais membros do colegiado o placar está favorável a Cunha – 10 a 9.
Se Eron ou seu suplente votarem a favor do peemedebista, o parecer por sua cassação será rejeitado por 11 a 9. Mas, se decidir em sentido contrário e a votação terminar empatada em 10 a 10, o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), favorável a cassação de Cunha, terá o poder de decidir a questão.
Paulinho da Força (SD-SP)

Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, tem se mostrado um aguerrido defensor de Cunha. Ele não esconde que o principal motivo da aproximação foi o interesse no impeachment de Dilma Rousseff – Imagem AG. BRASIL
“O nosso negócio é derrubar a Dilma. Nada nos tira desse rumo”, disse ao jornalFolha de S.Paulo em outubro. Na ocasião, o presidente da Força Sindical também frisou que está com o peemedebista “para o que der e vier”.
Paulinho é líder de seu partido, o Solidariedade, e assumiu a cadeira que cabia ao partido no Conselho de Ética após a representação contra Cunha, na tentativa de evitar a abertura do processo – o que acabou sendo aprovado. Depois, cedeu o lugar para Wladimir Costa (SD-PA), que também tem se colocado na linha de frente da defesa do peemedebista.
Após o PSOL liderar o pedido de abertura de processo contra Cunha, Paulinho apresentou uma representação contra o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) no conselho, movimento que foi visto como tentativa de retaliação. Alencar acabou absolvido.