Cabral admite pela 1ª vez ao MP ter recebido propina durante seu governo
O ex-governador Sérgio Cabral admitiu pela 1ª vez, em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal), que recebeu propinas em obras, contratos com fornecedores e negociações envolvendo o governo do Rio de Janeiro.
“Eu errei ao obter recurso de maneira incorreta, ilegal, em nome das campanhas eleitorais que liderei, e que usei esses recursos. O que não fiz foi pedir propina. Agir como corrupto, isso eu nunca agi. Existiu, sim. Existiu, sim, e ganhou propina. Propina direta e indireta, e muito dinheiro”, disse o ex-governador.
O depoimento, gravado em vídeo, foi feito na última 5ª feira (21.fev.2019) e teve duração de quase 3 horas. O ex-governador não fez uma delação. A defesa do ex-governador havia procurado o MPF. Desta forma, os procuradores o tratam como réu confesso.
A informação foi divulgada nesta 2ª feira (25.fev.2019) pela Globo News, que teve acesso ao depoimento.
Até antes do depoimento, Sérgio Cabral não admitia os crimes e apenas pedia desculpas sobre o uso de dinheiro de caixa 2 em campanha.
Já neste depoimento, Cabral falou de valores ilícitos supostamente pagos durante a reforma do Maracanã, desapropriação do Porto do Açu, Linha 4 do Metrô, entre outros episódios.
Cabral afirmou que em todas as suas campanhas eleitorais, desde 1998, passando por 2002 e 2006, o ex-chefe da Casa Civil Régis Fichtner sempre teve conhecimento e participação nos valores recebidos lícita e ilicitamente na campanha.
Segundo o ex-governador, o núcleo duro do grupo era formado por Regis, pelo o ex-secretario de governo Wilson Carlos e pelo ex-governador Luiz Fernando Pezão.
CAIXA 2
No depoimento, Cabral disse que Régis o ajudou a operacionalizar o recebimento de caixa 2 na campanha de 2002, organizando o que entraria por dentro e o que entraria por fora.
Segundo o ex-governador, em 2002, o ex-chefe da Casa Civil do Estado ganhou uma bonificação, que acredita ter sido de R$ 500 mil, que também foi paga ao coronel da PM Fernando França Martins, apontado como operador financeiro de Régis. Os 2 foram presos em 15 de fevereiro na operação Consigliere, mais 1 desdobramento da Lava Jato no Rio.
Cabral disse que Régis era considerado por ele o “primeiro-ministro” de seu governo.
“[Foi] tudo comandado pelo Régis. Eu dava na mão dele. Dizia: eu quero assim, faz assim. Ele ia fazendo, coordenando e tirando os próprios proveitos dele. Eu tirava os meus proveitos dos meus combinados, eu quero x% da obra, 2%, 3% da obra e o Régis fazia um acordo, se beneficiava também dessa caixa”, disse.
De acordo com Cabral, o pagamento de propinas começou em 2007, no início de seu governo. “Se não foi janeiro, foi fevereiro. Se não foi fevereiro, foi março, quando começou a rolar a propina paga por aqueles fornecedores”, afirmou.
O ex-governador disse ainda que, desde o início do esquema, Régis recebia uma mensalidade em torno de R$ 100 mil a R$ 150 mil paga por ele com dinheiro recebido da propina em seu governo.
Cabral afirmou também que ex-chefe da Casa Civil do Estado recebia propina não só em obras, como também nas concessões feitas pelo Estado.
O ex-governador disse que Régis recebeu propina do setor de transportes e que em alguns casos eram prestados serviços advocatícios pelo escritório do ex-chefe da Casa Civil e os valores eram superfaturados para pagamento de propina.
Cabral disse ainda que em outros casos sequer havia prestação de serviços, havendo fabricação de contratos fictícios para recebimento de propina por meio do escritório.
Até agora, Sérgio Cabral também costumava desqualificar qualquer subordinado que tentasse desmentir as versões dele sobre caixa 2.
O QUE DIZEM OS ENVOLVIDOS
Em nota divulgada à GloboNews, o advogado de Sérgio Cabral, Marcio Delambert, disse que o depoimento do ex-governador se deu por pedido da defesa, em 1 inquérito sigiloso, com o objetivo de melhor esclarecer fatos narrados em inúmeras ações penais.
Já o escritório de advocacia de Régis Fichtner negou as acusações do ex-governador. Segundo a nota, o escritório disse que se Cabral fez tais declarações, elas “só podem estar servindo ao propósito de obtenção de benefícios ilegítimos de alguém que já foi condenado em inúmeros processos”.
A nota diz que o sigilo bancário do escritório foi quebrado pela justiça em 2017 e nenhum dos fatos relatados foi comprovado. “A defesa do próprio Regis Fichtner disse que só vai se manifestar quando tiver acesso ao depoimento do ex-governador Sérgio Cabral”, disse.
Msn (Poder360)