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Brasil enfrenta a pior seca em décadas e registra 21 milhões de hectares queimados

O Brasil está experimentando a seca mais severa em décadas, uma crise que afetou amplamente o país desde 1950. Os rios estão secando, e áreas que antes eram inundadas agora são apenas bancos de areia quente.

Brigadistas estão lutando contra incêndios em diversos biomas, enquanto animais sofrem com a falta de água e queimam em meio às chamas. A fumaça disseminada pelo país não só prejudica a saúde de milhões, mas também confere ao pôr do sol uma coloração entre o alaranjado e o avermelhado, evidenciando a magnitude da seca atual.

De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a gravidade da seca deste ano já era esperada. Na semana passada, o Cemaden confirmou a extensão do problema com base em dados históricos desde 1950. “Os dados mostram que estamos enfrentando a seca mais extensiva, intensa e prolongada já registrada”, afirmou Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden.

A falta de chuvas contribui significativamente para outro problema grave: os incêndios florestais. O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) registrou um recorde de queimadas este ano. Aproximadamente 21,7 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal – uma área maior que o estado do Paraná.

Isabel Belloni Schmidt, professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), destacou a urgência da situação: “Estamos em um momento emergencial. É crucial proteger a saúde, especialmente dos mais vulneráveis, e evitar qualquer tipo de queimadas.” Ela explicou ainda que, durante a seca, todas as queimadas são de origem humana, pois as queimadas naturais, causadas por raios, ocorrem apenas durante períodos chuvosos.

A extensão e intensidade da seca

A seca atual afeta cerca de 59% do território brasileiro. “Comparando com secas anteriores, como a de 1997 e 1998, que afetou principalmente o Norte e partes do Nordeste devido ao El Niño, e a seca de 2015 e 2016, que foi extensa e impactou o Centro-Norte do país, nunca antes vimos uma seca que abranja do Norte ao Sudeste do Brasil”, avaliou Cunha.

O Índice de Precipitação Padronizado de Evapotranspiração (SPEI) é uma ferramenta crucial para medir a gravidade da seca. O SPEI avalia a quantidade de chuva e a evaporação, refletindo a disponibilidade hídrica. Dados recentes mostram que o SPEI está extremamente negativo, indicando a intensidade e a extensão inéditas da seca atual.

Para o Nordeste, Cunha prevê um agravamento da situação nos próximos meses. “Os últimos meses do ano serão particularmente críticos para o Nordeste, que é mais vulnerável economicamente e coincidirá com o início do ciclo agrícola da agricultura familiar.”

A previsão de melhora na situação climática deve ocorrer apenas no final do ano, com a possível influência do fenômeno La Niña, que pode trazer mais chuvas para as regiões Norte e Nordeste do Brasil. No entanto, o Rio Grande do Sul, que já enfrentou uma intensa seca antes de uma recente inundação, pode passar novamente por períodos de seca.

Manejo do fogo e soluções de longo prazo

Enquanto as queimadas e incêndios devem ser combatidos de imediato, a solução de longo prazo exige ações para equilibrar o meio ambiente, como o combate ao desmatamento. A professora Isabel Belloni Schmidt sugere que um manejo mais equilibrado do fogo e a preservação das bacias hidrográficas são essenciais. O Cerrado, que sustenta oito das doze principais bacias hidrográficas do Brasil, é crucial para a disponibilidade de água no Pantanal e em outras regiões.

O desmatamento da Amazônia também tem impacto direto na disponibilidade hídrica, afetando a região Sudeste e Sul do país através dos chamados “rios voadores”. A professora enfatiza a importância de projetos de lei que visam proibir a venda de terras incendiadas, combatendo práticas de grilagem.

Além disso, o Manejo Integrado do Fogo (MIF) surge como uma abordagem de longo prazo. A recente promulgação de uma lei sobre o MIF e a criação do Centro Integrado Multiagência de Coordenação Operacional Federal (Ciman Federal) são passos importantes para enfrentar o problema. O MIF considera o fogo como um elemento natural e humano, permitindo um planejamento ambiental mais eficaz.

Por fim, a professora sugere que o tema do meio ambiente deve ser destacado nas eleições municipais, para garantir que a preservação ambiental receba a atenção necessária.

 

Da Redação