Bolsonaro tem quadro estável, mas segue na UTI após cirurgia complexa
Ex-presidente apresenta consciência e estabilidade clínica, com alimentação por via venosa
A equipe médica responsável pela cirurgia do ex-presidente Jair Bolsonaro informou nesta segunda-feira (14) que o procedimento foi bem-sucedido, mas que não há previsão para a alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde ele segue internado. A expectativa é que a hospitalização dure, ao menos, duas semanas. Bolsonaro está acordado, consciente e recebendo alimentação por via intravenosa.
— A expectativa é que Bolsonaro leve uma vida sem restrições, mas o pós-operatório deve durar de dois a três meses. Nossa previsão inicial é de que ele permaneça hospitalizado por pelo menos duas semanas, o que dependerá da evolução clínica — afirmou o médico Cláudio Birolini, chefe da equipe cirúrgica.
Segundo Birolini, a decisão pela cirurgia se deu porque o quadro de distensão abdominal do ex-presidente não apresentou melhora com tratamento clínico.
— Verificamos que a distensão não cedia, o que nos levou à indicação cirúrgica. Grosso modo, o abdome dele é um ambiente hostil, em razão das cirurgias anteriores e da facada de 2018. Para se ter ideia, levamos duas horas apenas para acessar a parede abdominal. O intestino estava bastante comprometido, e tudo indica que o problema já vinha se agravando há meses — completou o médico.
Apesar da complexidade do quadro, Birolini disse esperar que o procedimento tenha sido definitivo. No entanto, reconheceu que novas aderências podem se formar, o que é comum nesse tipo de caso.
Outro integrante da equipe, o cardiologista Leandro Echenique, reforçou que não há previsão para a saída de Bolsonaro da UTI. Segundo ele, o quadro exige atenção redobrada no pós-operatório.
— A cirurgia foi extremamente complicada, com presença de muitas aderências. O procedimento teve um desfecho técnico muito bom, mas o pós-operatório será delicado. O organismo responde com inflamação, o que pode gerar intercorrências como infecção, alterações de pressão e risco aumentado de trombose. Por isso, ele requer cuidados intensivos e específicos — afirmou o cardiologista.
Echenique também comentou uma publicação feita pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que havia indicado nas redes sociais que o ex-presidente teria sido transferido para um quarto. Os médicos esclareceram que a referência era à chegada de Bolsonaro à UTI, após deixar o centro cirúrgico.
A equipe médica demonstrou preocupação com o estilo de vida ativo do ex-presidente, conhecido por manter uma agenda intensa de viagens.
— O presidente tem uma rotina atribulada, com muitas viagens e compromissos. Vamos tentar contê-lo o quanto for necessário para garantir uma boa recuperação — disse Birolini.
Cirurgia de grande porte e internação emergencial
Bolsonaro foi submetido, no domingo (13), a uma laparotomia exploradora no Hospital DF Star, em Brasília. A cirurgia, classificada como de grande porte, teve como objetivo tratar uma obstrução intestinal causada por aderências no intestino delgado. O procedimento durou cerca de 12 horas e incluiu a reconstrução da parede abdominal.
Segundo o boletim médico, o ex-presidente está “clinicamente estável, sem dor, recebendo suporte clínico, nutricional e de prevenção a infecções”. A equipe também informou que não houve necessidade de transfusão de sangue.
A laparotomia exploradora consiste na abertura do abdome para avaliação dos órgãos internos. No caso de Bolsonaro, os médicos identificaram uma dobra no intestino delgado que dificultava o trânsito intestinal — sequela de intervenções anteriores após a facada sofrida em 2018.
A cirurgia foi realizada após Bolsonaro apresentar um quadro agudo de distensão abdominal na última sexta-feira (11), durante um compromisso político no Rio Grande do Norte. Ele foi inicialmente atendido em Santa Cruz, no interior do estado, transferido para Natal e, no dia seguinte, levado para Brasília.
Complicações recorrentes
Desde o atentado à faca durante a campanha presidencial de 2018, Bolsonaro já foi submetido a diversas cirurgias abdominais e internações por quadros semelhantes. O episódio mais recente havia ocorrido em maio de 2023.
Antes da conclusão da cirurgia, Michelle Bolsonaro chegou a informar que o procedimento duraria entre 19h e 20h. No entanto, posteriormente atualizou a estimativa, alertando para a possibilidade de a operação se estender por mais duas horas, o que de fato ocorreu.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), próxima à família Bolsonaro, comentou com jornalistas que o histórico do ex-presidente sempre exigiu atenção especial.
— Toda cirurgia no intestino é delicada, e não estamos falando de um menino. Ele já tem idade avançada e carrega as sequelas do atentado. A família sempre soube que ele não teria uma vida completamente normal depois que tentaram matá-lo — disse Damares.
A decisão por realizar o procedimento em Brasília foi tomada por Michelle Bolsonaro, mesmo diante da sugestão de aliados para que a cirurgia fosse feita em São Paulo, sob os cuidados do cirurgião Antonio Luiz Macedo, que acompanha o ex-presidente desde 2018. A escolha recaiu sobre o especialista em parede abdominal Cláudio Birolini, que assumiu o caso na capital federal.
A obstrução intestinal, causa da internação, é um bloqueio parcial ou completo do intestino, impedindo o funcionamento normal do sistema digestivo. A condição pode levar a quadros graves de dor, desidratação e distensão abdominal, como ocorreu desta vez.