Bolsonaro admite erro ao chamar Moraes de ‘canalha’ e fala em fim de linha se for condenado
Ex-presidente adota discurso mais moderado e afirma que, se for condenado pela Corte, não terá mais alternativas jurídicas; investigação por tentativa de golpe deve ir a julgamento até o fim do ano
Ex-presidente adota discurso mais moderado e afirma que, se for condenado pela Corte, não terá mais alternativas jurídicas; investigação por tentativa de golpe deve ir a julgamento até o fim do ano
Ex-presidente vê fim da linha política em eventual condenação
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quarta-feira (14) que, se for condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que o acusa de participar de uma tentativa de golpe de Estado em 2022, não terá mais recursos jurídicos disponíveis. “Se eu for condenado, acabou. É ‘game over’”, declarou em entrevista ao portal UOL. Aos 70 anos, Bolsonaro admitiu não ter disposição física para disputar futuras eleições e indicou que uma eventual punição da Justiça representaria o encerramento definitivo de sua trajetória política.
Apesar de sua longa trajetória de confrontos públicos com o Supremo, Bolsonaro adotou um tom mais contido durante a entrevista. “Não fico feliz em desgastar o Supremo”, disse, acrescentando que se surpreende com os índices de impopularidade da Corte, inferiores até mesmo aos do Legislativo. “Não entendo por que essa perseguição brutal em cima de mim”, afirmou.
Arrependimento por ataques a Moraes
Questionado sobre declarações passadas, Bolsonaro disse que não repetiria o termo “canalha” usado contra o ministro Alexandre de Moraes durante um discurso no 7 de Setembro de 2021. “Foi um desabafo. Não falaria mais”, afirmou. Ele também reconheceu a necessidade de diálogo institucional. “Hoje, a gente voltaria muito melhor [ao governo]. Até a relação com o STF. Tem que ter relacionamento, ponto final. Por mais que tenhamos arestas com alguns”, completou.
O ex-presidente também sinalizou que teria uma abordagem diferente em relação aos militares em um eventual novo mandato. Segundo ele, manteria os integrantes das Forças Armadas restritos ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), evitando a politização da estrutura militar no Palácio do Planalto.
Caso Cid e plano de atentado são minimizados
Durante a entrevista, Bolsonaro minimizou a visita que recebeu do general Marco Antônio Fernandes no final de seu mandato, no Palácio da Alvorada. O militar é acusado de planejar o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, em uma ação batizada de “Punhal Verde e Amarelo”. Bolsonaro afirmou que o general foi ao local para prestar solidariedade, como outros aliados fizeram na ocasião, e sugeriu que o plano pode ter sido “roteiro de novela ou filme”.
O ex-presidente também comentou, sem dar detalhes, o acordo de delação premiada de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, investigado pela Polícia Federal. Bolsonaro insinuou que o militar foi submetido a pressões equivalentes a tortura psicológica. “Ele foi torturado. Foi o pau de arara do século XXI”, afirmou, utilizando uma expressão que remete às práticas da ditadura militar, regime que ele frequentemente defende. Apesar das críticas, evitou afirmar se Cid mentiu ou não no depoimento.
Sem nome para sucessão em 2026
Bolsonaro evitou apontar um sucessor para as eleições presidenciais de 2026. Mesmo elogiando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), preferiu não endossar seu nome como herdeiro político. Questionado sobre o prazo para a desincompatibilização de governadores que desejam concorrer ao Planalto, respondeu apenas que “ainda falta muito”.
Processo no STF pode acelerar julgamento até o fim do ano
Bolsonaro tornou-se réu no STF no final de março, após a Primeira Turma da Corte, por unanimidade, aceitar a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele e outras sete pessoas foram formalmente acusadas de integrar o núcleo central da trama que visava subverter a ordem democrática após as eleições de 2022.
A decisão do Supremo abriu caminho para o julgamento do mérito da acusação, que deve ocorrer até o fim de 2025, com o objetivo de evitar contaminação eleitoral no pleito presidencial do ano seguinte.
Atualmente, Bolsonaro já está inelegível, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023. Com o avanço do processo criminal, cresce a pressão dentro de sua base política para a definição antecipada de um nome que possa liderar a oposição nas próximas eleições.