Atrás das grades, 30% dos detentos de MT cursam do ensino fundamental à faculdade
Das 55 unidades prisionais do estado, 49 têm salas de aula. Maior dificuldade dos presos é conseguir documentação exigida para ingresso no ensino superior.
antidos atrás das grades, 30% dos presos de Mato Grosso estudam algum tipo de ensino: desde o fundamental, as séries iniciais e até o ensino médio. Os poucos que têm interesse em ingressar em faculdades ainda precisam conseguir autorização judicial. Em geral, a maior dificuldade dos detentos é conseguir a documentação necessária para estudar, tanto nos presídios quanto em universidades.
Segundo a Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso (Sejudh-MT), dos 11 mil presos do sistema penitenciário de Mato Grosso, 3.340 estudam desde as séries básicas até o ensino médio. O número de presos que ingressaram no ensino superior é baixo: apenas 12 que estão no regime fechado estão liberados pela Justiça de Mato Grosso a cursar faculdade.
Três deles já fazem curso superior na Universidade Federal de Mato Grosso em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá. Os demais devem começar os estudos no próximo semestre letivo.
Os mais de 3,3 mil ‘presos estudantes’ recebem as lições nas próprias cadeias e penitenciárias do estado. Das 55 unidades, 49 têm salas de aula e oferecem ensino aos detentos. Os cursos, trabalho e educação, segundo a Lei de Execuções Penais (LEP) ajudam na remissão de pena dos presos.
“A política educacional em prisões é da Secretaria Estadual de Educação [Seduc]. Os professores que ministram as aulas são da secretaria. As salas são dentro da própria unidade: de manhã e à tarde. Na grande maioria das unidades, como na PCE [Penitenciária Central do Estado em Cuiabá], não existem grades nas salas. É uma escola normal”, explicou ao G1 o secretário adjunto de administração penitenciária, Emanuel Flores.
Na Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, presas e professores ficam no mesmo ambiente durante as aulas. Em outras unidades os presos e o professor são separados por grades. A unidade com maior número de estudantes é a PCE, na capital mato-grossense. Dos 2,1 mil presos, 450 estudam em 10 salas criadas dentro da penitenciária.
“Existem avaliações e provas, dependendo da questão e grau de escolaridade e nível de conhecimento que os presos têm. É um pouco menos rígido do que os ensinos fora das prisões, pela dificuldade que eles têm de aprender a ler e a escrever, além do conhecimento e discernimento das matérias em si”, pontuou o secretário.
Os livros e conteúdos dados aos presos são os mesmos usados para as escolas estaduais. Todo material é cedido pela Seduc. “Temos até lanche, que é servido em um intervalo [dos estudos]. As salas de aula têm banheiro. O ano letivo é corrido, não existem férias. Alguns que terminam o ensino médio não conseguem entrar na faculdade por dificuldade em ter todos os documentos exigidos”, lamentou Flores.
O secretário observa que os presos que decidem estudar acabam influenciando os demais que inicialmente não demonstraram interesse.
“Há uma mudança no comportamento que chega a motivar outros presos a estudar também. Muitos que estão lá não sabem ler nem escrever o próprio nome. A motivação vem em aprender a escrever ou ler e a sair de lá e buscar fazer uma faculdade, além de se tornar uma pessoa melhor”, finalizou.
Por G1 MT