Ato em Copacabana tem oração de Michelle, discurso de Bolsonaro com retórica de perseguição e ataques a Moraes e Pacheco
A exemplo do que ocorreu em São Paulo, fala mais forte coube ao pastor Silas Malafaia, que criticou militares e chamou presidente do Senado de ‘frouxo’ e ‘omisso’; referências à investida de Elon Musk contra o Judiciário brasileiro também deram o tom do evento
Apoiadores de Jair Bolsonaro participaram, na manhã deste domingo, de uma manifestação na Praia de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, em apoio ao ex-presidente. O ato contou com referências ao bilionário Elon Musk, que teve embates recente com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo constante dos bolsonaristas e que foi atacado pelo pastor Silas Malafaia. Em seu discurso, Bolsonaro criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as decisões judiciais que o tornaram inelegível. Também participaram do evento os governadores do Rio, Cláudio Castro, e de Santa Catarina, Jorginho Mello.
O ex-presidente, o último a discursar, fez ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e defendeu o bilionário Elon Musk. Ele também criticou o inquérito de que é alvo, que apura uma eventual tentativa de golpe de Estado, e as duas condenação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o tornaram inelegível.
— Eles fizeram voltar à cena do crime o maior ladão da história do Brasil. Um apoiador de ditaduras. O que eles querem é a ditadura, com o controle social da mídia. Acusam agora o homem mais rico do mundo, que é dono de uma plataforma cujo objetivo é fazer com que o mundo todo seja livre, que é o X, o nosso antigo Twitter. É um homem que preserva pela liberdade para todos nós, que teve coragem de mostrar com todas as provas para onde nossa democracia estava indo. Não vamos falar de fraude, vamos considerar 2022 coisa passada, mas quando meu partido questiona dentro da lei, é multado em R$ 22 milhões. O TSE me torna inelegível porque eu sim me reuni com embaixadores, eu não me reuni com traficantes no Complexo do Alemão. Eu não coloquei do meu lado a dama do tráfico do Amazonas no ministério.— falou Bolsonaro.
Bolsonaro negou ainda a existência de uma minuta de golpe, para interferir no resultado das eleições de 2022, documento encontrado pela Polícia Federal em operação para investir um suposto plano de ataque golpista. Ele também defendeu pessoas que participaram dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes.
O discurso mais duro do evento foi o do pastor Silas Malafaia, organizador do ato. Ele repetiu a estratégia de outros atos, onde ataca diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
—A minuta de golpe é a maior fake news. Bolsonaro não propôs golpe de Estado. Alexandre de Moraes, quem te colocou como sensor da democracia? Quem é você para dizer o que um brasileiro pode ou não falar? Todo ditador tem um modus operandi. Prende alguns para colocar medo nos outros. Alexandre de Moraes é uma ameaça à democracia. Não vim aqui atacar o STF, mas pergunto. A maioria dos ministros do STF não concordam com o Moares e não podem se calar. Ele está jogando o STF na lata do lixo da moralidade — disse em seu discurso.
Malafaia também negou a existência de uma minuta de golpe e lançou críticas também aos comandante das Forças Armadas e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
— Se esses comandantes militares honram a farda que vestem renunciem dos seus cargos e que nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado. E o senhor presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, frouxo, covarde e omisso. Vai ser acusado de prevaricação — afirmou.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro abriu a série de discursos do ato no trio-elétrico com citações religiosas. A presidente do PL Mulher mandou ainda um recado direcionado para as mulheres presentes no evento, pedindo que elas fizessem “política feminina e não feminista”. Ela citou também a eleição municipal deste ano.
— Queremos passar uma mensagem para homens e mulheres de bem de que há esperança de dias melhores para o nosso povo. Um ano decisivo para o Rio de Janeiro, de eleições. Que vocês possam escolher bem seus candidatos — falou.
Os embates entre o empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo constante de ataques bolsonaristas, foram lembrados pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO). Ele chegou a fazer falas em inglês, direcionadas ao bilionário.
— Eles fizeram de tudo para impedir que vocês viessem hoje. O Brasil se tornou hoje o cenário da batalha pela liberdade no mundo inteiro. O mundo está admirado de ver um povo tão perseguido que não se cansa de lutar. Vou falar em inglês porque com certeza o Elon Musk está olhando para cá agora. Essa mensagem é para o mundo, o que você vê aqui são pessoas que amam a liberdade e que não vão desistir e que estão dispostas a dar suas vidas por ela — disse.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez críticas ao presidente Lula em seu discurso, citando o aumento dos casos de dengue no país. Ele também mandou um recado para o bilionário Elon Musk.
— Quero deixar o meu agradecimento ao Elon Musk, pelo que ele está fazendo. Uma salva de palmas para ele. Esse não precisa mais de leis e emendas, esse país precisa de homens com testosterona — falou.
O ato deste domingo foi marcado para 10h, mas desde o começo da manhã já havia movimentação de participantes na orla. O primeiro a falar no trio-elétrico foi do general da reserva Walter Braga Netto, ainda antes do início dos pronunciamentos oficiais. Investigados por supostas investidas golpista, ele, Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estão proibidos de manter contato por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Agradeço a vocês o carinho com o presidente Bolsonaro e comigo. Continuamos na luta pelo Brasil. Muito obrigada a todos vocês. Tenho que sair — afirmou Braga Netto, por volta das 9h.
Pouco depois, Valdemar recebeu a palavra e apresentou diversos políticos do PL. Ao citar o senador Romário (RJ), que não está presente na manifestação, vaias foram ouvidas no público.
— O PL mais forte do Brasil é no Rio de Janeiro. Vocês e o Bolsonaro fizeram do PL o maior partido do Brasil. Deus, pátria, família e liberdade — disse Valdemar, que, após deixar o palco, falou ao GLOBO. — A única coisa que eu fico triste é de não poder ficar junto com o Bolsonaro.
O primeiro integrante da família a chegar na Praia de Copacabana foi Flávio Bolsonaro, que teceu críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao falar com a imprensa:
— Olha como o Alexandre de Moraes interferiu nas eleições de 2022 de uma forma totalmente parcial. Ele desequilibrou a livre concorrência nas eleições para beneficiar o Lula. Infelizmente, essa é a realidade. Tantas pessoas nas ruas, é exatamente um grito de liberdade ante todas as arbitrariedades que nós temos visto. Há uma perseguição implacável por um ministro apenas, que a gente lamenta — disse.
A manifestação em Copacabana é a segunda organizada pelo pastor Silas Malafaia nos últimos meses para ajudar Bolsonaro a demonstrar força política. A primeira, em fevereiro, foi na Avenida Paulista, em São Paulo, e aconteceu logo após o ex-presidente ser alvo de mandados de busca e apreensão no âmbito da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após a vitória de Lula. O ato em SP reuniu cerca de 185 mil pessoas, segundo o cálculo do grupo de pesquisa Monitor do Debate Político, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
Tumulto por credenciais
Na barreira montada na esquina da Rua Bolívar com a Domingos Ferreira, um tumulto foi formado após faltarem pulseiras para credenciamento de autoridades que desejavam acesso privilegiado ao ato. No local, os presentes apelam pela liberação entoando seus cargos no partido, mostrando e-mails trocados e até se declarando como pré-candidatos.
No entanto, poucos foram liberados sem a pulseira no pulso. Segundo a organização, não há previsão de chegada de novas credenciais. A orientação tem sido acessar o evento como o público em geral, pelas laterais. Mas isso desagrada quem apostava em algum tipo de tratamento diferenciado para ingressar na manifestação.