Atitudes da economia

Considero muito emblemática a união das entidades econômicas mais representativas de Mato Grosso na última segunda-feira, em Cuiabá. Historicamente empresários mato-grossenses tiveram poucas atitudes diante das sucessivas crises que o estado sofreu nesses 40 anos em que aqui resido. Em certas ocasiões foi consultado e opinou. Mas se suas posições não tivessem sido acatadas pelos governantes da época, é possível que uma cara de choro aqui e outra ali fossem as únicas reações de desgosto.

Porém, a união dos representantes dos principais segmentos do estado mostrou que mudou a cara da representação empresarial e os representantes já são capazes de tomarem atitudes em defesa da economia e compreendem a sua conexão com a sociedade mato-grossense. Pra compreender o peso da representação que vai estimular os 11 parlamentares a votarem a favor do impeachment da presidente da República e a condenação da corrupção instalada no país, vamos começar com um número.

O agronegócio, a principal corrente da economia, gira em torno de R$ 50 bilhões pra produzir uma safra agrícola. Parte desses recursos vai para o exterior através das tradings que financiam insumos, mas outra parte fica no estado e gira na forma de consumo de produtos e insumos complementares, de máquinas, de combustíveis, de serviços, etc. O comércio e os serviços estaduais tem sua fonte geradora em parte desses recursos oriundos do giro do agronegócio. Por sua vez, a indústria faz seu próprio giro e o comércio e os serviços são os depositários a partir dos quais maior parte da arrecadação de impostos chega ao cofre estadual. De lá ela volta na forma de pagamento de salários, compra de serviços e contratação de obras.

Desse modo, quando uma recessão aguda como a atual atinge a economia, ela começa lá dentro da porteira da fazenda de soja ou de gado, reduz a atividade do comércio, dos serviços e termina na redução de impostos recolhidos aos cofres públicos. Principalmente os cofres estaduais, os que sentem primeiro o impacto. Em conseqüência os municípios são atingidos quando a arrecadação cai e parcelas importantes de suas receitas deixam de vir dos governos federal e estadual.

A atitude do setor produtivo e dos movimentos de mudança que se agregaram é um gesto de profunda cidadania. Sua representação e organização faz eco nos ouvidos dos governantes. Na próxima segunda-feira se reunirão de novo pra falar da articulação de um movimento de paralisação nacional. Faz o maior sentido!

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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