Annabelle: franquia de terror tem origem em história real
Saiba o que é verdade e o que é invenção na série, que acaba de estrear mais um filme no país
A boneca Annabelle, que aterroriza os fãs de cinema desde que apareceu no prólogo de Invocação do Mal (2013), de James Wan, está de volta em Annabelle: A Criação do Mal, dirigido por David F. Sandberg. O longa já é o segundo spin-off com o brinquedo – o primeiro, Annabelle, de John R. Leonetti, saiu em 2014.
A boneca amaldiçoada é real: ela é um dos casos investigados por Ed Warren (1926-2006) e sua mulher Lorraine, que são personagens tanto de Invocação do Mal quanto de Invocação do Mal 2 (2016), também dirigido por Wan. Os quatro filmes da série são um sucesso de bilheteria, com receita de mais de 1 bilhão de dólares (3,1 bilhões de reais) ao redor do mundo.
Mas quanto de verdade há nessas histórias? VEJA investigou – e, bom avisar, há potenciais spoilers a seguir:
Annabelle: o caso verdadeiro
No prólogo de Invocação do Mal, Ed e Lorraine Warren investigam o caso da boneca, comprada pela mãe de uma enfermeira em uma loja de antiguidades. A enfermeira e a amiga com quem ela dividia o apartamento relataram que a boneca aparecia em lugares diferentes e chegou a voltar depois de ser posta no lixo. Os Warren a levaram para casa, onde é mantida em uma propriedade adjacente que funciona como museu, atualmente fechado. “Não poderia manter essas coisas em minha casa. E não entro lá”, disse Lorraine em entrevista à época do lançamento. “Os artigos são abençoados por um padre católico.” A boneca do filme, porém, não se parece nada com a verdadeira, uma simples e inocente boneca de pano.
A casa assombrada
Invocação do Mal, na realidade, trata de outro caso, da família Perron. Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) são chamados por Roger (Ron Livingston) e Carolyn (Lily Taylor), pais de cinco meninas, que têm experiências estranhas ao se mudar para uma casa isolada em Rhode Island. Os Warren chegam à conclusão de que a casa é assombrada pelo espírito da suposta bruxa Bathsheba Sherman. Como o filme mostra, ao longo de sua história a casa teve uma série de mortes trágicas, incluindo suicídios e afogamentos. “Há mais chances de ganhar na loteria do que de todas aquelas mortes estranhas acontecendo naquele pedaço de terra”, disse Carey Hayes, que escreveu o roteiro com seu irmão gêmeo Chad Hayes.
No filme, há uma condensação de tempo. “Na verdade, eles moraram lá por anos”, disse Chad. “Também tivemos de cortar algumas das experiências. Quando entramos no projeto, recebemos uma sinopse de três páginas, mais duas páginas de sustos que as meninas anotaram. Era coisa demais. Decidimos usar um número menor e ir crescendo.” Mas a brincadeira de esconde-esconde com palmas (em que a pessoa escondida bate palmas para dar pistas de onde está) foi sugerida pelo diretor James Wan.
Relação de Ed e Lorraine
Um dos destaques de Invocação do Mal e Invocação do Mal 2 é contar as histórias sob o ponto de vista dos Warren, como são afetados por suas investigações e como há um paralelo entre as famílias que enfrentam experiências sobrenaturais e o casal de demonologistas, pais de uma menina, Judy. “Os produtores fizeram um bom trabalho ao recontar a história”, disse Lorraine. “Especialmente como mostram a relação de Ed comigo quando estou vendo aquele assombramento sério.” Lorraine é a sensitiva que consegue enxergar o que está se passando com as casas e as famílias afetadas. A atriz Vera Farmiga passou três dias com Lorraine para “capturar sua essência”. “Queria observar seu olhar, seu sorriso, como eu ia interpretar a clarividência, a forma como ela brinca com seus anéis. A força de seu olhar é tão grande que às vezes me obrigava a olhar para o outro lado.”
Provas e exorcismo
No final de Invocação do Mal, quando a mãe, Carolyn, está possuída, os Warren veem que não têm tempo de esperar a resposta do Vaticano sobre a necessidade de um exorcismo – munidos de gravadores e câmeras, os investigadores coletavam provas, mandavam para a sede da Igreja Católica, que então decidia o que fazer. No filme, Ed resolve fazer um exorcismo ali mesmo. Mas Lorraine nega que isso tenha acontecido, pois Ed não tinha licença para executá-los.
Do outro lado do oceano
Invocação do Mal 2 se debruça sobre o caso da família Hodges, em Londres, nos anos 1970. Numa casa precária, moram a mãe, Peggy (Frances O’Connor) e seus quatro filhos, que começam a relatar fatos estranhos, como camas balançando e móveis se mexendo sozinhos. Uma policial chegou a escrever num relatório que viu uma cadeira se movendo sozinha. Mas também houve muitas dúvidas, com acusações de que as meninas Janet (Madison Wolfe) e Margaret (Lauren Esposito) inventavam tudo. Por exemplo, Janet falava com voz masculina e grunhia, mas somente quando ninguém estava olhando diretamente para ela. No filme, o caso é investigado por Maurice Grosse (Simon McBurney), e os Warren (novamente interpretados por Vera Farmiga e Patrick Wilson) são chamados para resolver de vez. Na realidade, parece que não foi bem assim: tem gente que diz que eles apareceram sem ser chamados, e eles ficaram apenas um dia.
Annabelle ataca de novo?
Em Annabelle, o primeiro spin-off de Invocação do Mal, os Warren não aparecem. Mia (Annabelle Wallis) está grávida e vive com seu marido John Gordon (Ward Horton) em Santa Monica, na Califórnia, no final dos anos 1960, quando a região estava sendo aterrorizada por seitas satânicas como o de Charles Manson, que assassinou a atriz Sharon Tate, que era casada com o diretor Roman Polanski e estava grávida de oito meses na época. No filme, depois de ganhar uma boneca vintage do marido – Annabelle, claro –, Mia é atacada por membros de uma seita, mas sobrevive. Uma das atacantes é morta com Annabelle na mão. O casal muda-se, então, para um apartamento em Pasadena. Apesar de a boneca ter sido jogada no lixo, ela reaparece na mudança, e, agora mãe de uma menininha, Mia começa a ter experiências novamente. Mas nada disso aconteceu de verdade, é tudo invenção do roteirista Gary Dauberman – o único caso relatado de Annabelle é aquele com as enfermeiras. “A ideia se desenvolveu organicamente, na época tinha uma filha de seis meses e sei como essa experiência pode ser claustrofóbica”, disse ele em entrevista ao site da Veja. No filme, a boneca aparece em lugares onde não tinha sido colocada e chega a levitar, coisas que foram relatadas no caso original, das enfermeiras, que aparece em Invocação do Mal.
Um padre no caminho
Buscando ajuda para se livrar da influência da boneca, dominada por um espírito inumano, como descrevem os Warren em seus relatórios, Mia e John buscam ajuda do Padre Perez (Tony Amendola), que leva Annabelle com ele para a igreja. No caminho, ele sofre um acidente de carro. A ocorrência foi levemente baseada na experiência dos próprios Warren, que relataram que o carro começou a se comportar de maneira estranha quando eles levaram Annabelle para casa – hoje, ela está trancada numa caixa de vidro. Alguns anos mais tarde, um jovem casal visitou o museu, e, depois de ficar fazendo brincadeiras com a boneca, sofreu um acidente de motocicleta na volta para casa. “Não é exatamente a mesma história, mas usamos alguns elementos”, disse Dauberman.
As órfãs
Annabelle – A Criação do Mal mostra um grupo de seis órfãs, acompanhadas da freira Charlotte (Stephanie Sigman), chegando à casa do casal Samuel (Anthony LaPaglia) e Esther Mullins (Miranda Otto), depois do fechamento do orfanato onde viviam. A ideia de usar órfãs como protagonistas foi do diretor James Wan. “Quisemos expandir esse universo, para que casasse com Invocação do Mal e também com a mitologia em geral”, disse Dauberman. Ou seja, a história é inventada. Mas o roteirista se baseou em pesquisas sobre a Igreja Católica nos Estados Unidos dos anos 1950 para criar a história do orfanato fechando, e as meninas sendo abrigadas por um casal. “Na época, muitos orfanatos estavam passando da Igreja Católica para outras instituições ou sendo fechados de vez. Então isso influenciou minha história sobre essas garotas e essa freira mudando-se para a casa desse casal. Havia esse evento real acontecendo nos Estados Unidos que influenciou a história. É divertido usar como contexto.”
Bilhetes e outras travessuras
No caso verdadeiro envolvendo Annabelle, as enfermeiras Donna e Angie descreveram que a boneca mudava de lugar sozinha e chegou a voltar ao apartamento depois de ser jogada no lixo. Ela também levitava e se comunicava por meio de bilhetes. E chegou ficar violenta com Lou, um amigo das duas, que relatou ter sido atacado por elas. “Isso acontecia mesmo, ela é um recipiente de energia negativa”, explicou Dauberman, que usa todos esses elementos nos dois roteiros. Em Annabelle – A Criação do Mal, ela chega a ser jogada num poço, sem sucesso.
Por Mariane Morisawa, de Los Angeles para a Veja