Alexandre Padilha ia ficar com uma parte do laboratório da Lava Jato, diz delator
Carlos Alexandre de Souza, o Ceará, afirmou ter ouvido do doleiro Alberto Youssef que no processo de aquisição da Labogen, usada para tentar fraudar contratos milionários no Ministério da Saúde do governo Dilma, o então ministro ficaria com a ‘terceira parte’
O ex-ministro da Saúde (Governo Dilma Rousseff) e atual secretário de Saúde da prefeitura de São Paulo Alexandre Padilha iria ficar com uma parte do laboratório Labogen, usado pelo doleiro Alberto Youssef para tentar fraudar contratos milionários da Pasta em 2013. A informação foi dada pelo entregador de dinheiro de Youssef, Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, em delação premiada à Procuradoria-Geral da República. Ele disse ter ouvido do doleiro que o laboratório seria fatiado em quatro partes, uma delas assumida por Padilha, então ministro da Saúde, em parceria com o então vice-líder do PT na Câmara André Vargas, preso e condenado na Operação Lava Jato.
Alexandre Padilha exerce atualmente o cargo de secretário municipal de Saúde da administração Fernando Haddad (PT), em São Paulo. Ele nega categoricamente que fosse assumir o controle de uma cota do laboratório.
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O delator afirmou que o laboratório seria dividido entre quatro controladores. Ele citou como beneficiários da partilha dos ativos da Labogen, além do ex-deputado André Vargas, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do Governo Fernando Collor (1990/1992), e o doleiro Leonardo Meirelles, suposto laranja de Youssef.
“A Labogen seria dividida em quatro partes; uma das partes era de Leonardo Meirelles; a segunda parte era de Alberto Youssef, baseada no débito que Leonardo Meirelles tinha para com ele; a terceira parte era do então ministro da Saúde Alexandre Padilha e de André Vargas; a quarta parte era do fundo de investimentos administrado por Pedro Paulo Leoni Ramos; o aporte de dinheiro na Labogen para fabricar os medicamentos a serem fornecidos ao Ministério da Saúde foi feita por meio do fundo de investimentos administrado por Pedro Paulo Leoni Ramos.”
A Labogen era uma das empresas usadas por Youssef para remeter dinheiro de forma fraudolenta para o exterior via celebração de contratos de câmbio para importações fictícias, segundo a força-tarefa da Lava Jato. O laboratório e o nome de Padilha já haviam sido citados no depoimento de Youssef. Segundo o doleiro, o ex-deputado André Vargas teria feito lobby junto ao ministro Padilha para que a Labogen firmasse contratos milionários com o Ministério da Saúde.
O delator Ceará fez dezenove depoimentos, entre 29 de junho e 2 de julho de 2015, na Procuradoria-Geral da República. Em um deles, o Termo de Colaboração número 7, o delator relata a negociação para aquisição da Labogen.
Segundo ele, Youssef disse que pretendia “viabilizar” a empresa de medicamentos para “receber uma dívida” e “ainda obter lucro”.
A Labogen era uma indústria química em situação financeira caótica, quando o doleiro decidiu assumir o negócio e ‘revitalizar’ a empresa para se infiltrar no Ministério da Saúde, segundo a Polícia Federal. “Alberto Youssef disse que iria ‘fazer de um limão uma limonada’.”
Ceará disse ainda recordar que a Labogen tinha contrato com o Ministério da Saúde, mas não soube precisar o valor, se era de R$ 64 milhões ou R$ 164 milhões – desde que a PF identificou os movimentos de Youssef na área, em 2014, o Ministério da Saúde tem reiterado que não chegou a assinar contrato com a Labogen.
Em seu depoimento, Ceará relatou que em 2014 recebeu de Youssef a ordem de ir com ele buscar “um amigo” no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e que este amigo era ‘líder do PT, muito influente e com acesso à presidente Dilma Rousseff’.
Ao entrar no carro, depois de ouvir de Youssef que Ceará era seu homem de confiança, André Vargas teria dito que “está tudo marcato, tudo certo com o ministro”. Ceará afirmou à Procuradoria que, em um momento posterior, Youssef lhe disse que o ministro ao qual Vargas se referia era o então titular da Saúde, Alexandre Padilha.
COM A PALAVRA, O EX-MINISTRO ALEXANDRE PADILHA:
“É absurda e irresponsável qualquer tentativa, por meio de um vazamento seletivo baseado no “ouvi dizer”, de mais uma vez tentar vincular o nome do ex-ministro da Saúde ao referido laboratório mesmo após quase dois anos de conclusão de uma sindicância feita pelo Ministério da Saúde, de uma apuração concluída pela Controladoria-Geral da União (CGU) e de uma investigação da Polícia Federal (PF) não terem encontrado nenhum vínculo do ex-titular da Pasta com irregularidades e se quer o mesmo ter sido arrolado em qualquer investigação.
Cabe ressaltar que em nenhum momento o ex-ministro esteve sob investigação da Operação Lava Jato. O ex-ministro reitera ainda que assim como sempre defendeu e contribuiu para a apuração total de qualquer irregularidade pelos órgãos responsáveis também defende a apuração dos vazamentos seletivos cuja motivação deve ser investigada, pois certamente esse tipo de expediente não pode ser confundido com transparência nem correção à investigação em curso.”
Texto: VALMAR HUPSEL FILHO E BEATRIZ BULLA – Do Estadão.com.br
Foto Capa: portalmariliense.com