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A um ano da Copa, seleção brasileira enfrenta cenário inédito desde 1998

Dez vitórias em onze jogos com Tite. Primeiro lugar no ranking da Fifa. Líder da eliminatória. Classificação para a Copa do Mundo já garantida mesmo restando quatro rodadas para o fim do torneio da Conmebol. Time titular praticamente definido.

O cenário diante da seleção brasileira a um ano do Mundial da Rússia não poderia ser melhor, beirando a perfeição. Para se concluir isto, basta olhar o passado.

A última vez que a equipe canarinho tinha diante de si um cenário de tamanha confiança foi em 1997, um ano antes da Copa do Mundo da França. A equipe dirigida por Zagallo já estava classificada para o Mundial (por ser a detentora do título anterior), liderava o ranking da Fifa e já tinha a espinha dorsal definida pelo treinador.

Algo que não foi visto na preparação para os Mundiais seguintes – coincidentemente todos no novo milênio. Indefinições, ameaça de não se classificar e até desconfiança deram o tom do que a seleção brasileira teve de enfrentar.

A caminhada para a Copa de 2002, na qual o Brasil seria pentacampeão, foi a pior. A um ano do torneio a equipe já tinha trocado de técnico duas vezes (Luxemburgo e depois Candinho). Sofreu derrotas improváveis, perdeu a liderança do ranking da Fifa e era treinada naquele momento por Emerson Leão. A um do Mundial tinha nomes que nem sequer chegariam ao torneio da Coreia do Sul e do Japão. Casos do zagueiro Cláudio Caçapa, do lateral Léo, do volante Leomar, do meia Vágner e do atacante Washington.

Em junho de 2001, eles formavam a espinha dorsal da equipe de Leão na Copa das Confederações. A participação no torneio foi decepcionante. O Brasil perdeu na semifinal para a França. Depois, na decisão de terceiro lugar, foi derrotado pela Austrália. A má campanha fez o treinador ser demitido no retorno ao país. Luiz Felipe Scolari assumiria pouco depois.

O cenário melhorou em 2005, quando faltava um ano para a Copa da Alemanha.

A seleção era treinada por Carlos Alberto Parreira. Primeira colocada do ranking da Fifa, chegou a ser batizada de “a equipe dos sonhos” por reunir talentos em diferentes posições: nas laterais, Cafu, Roberto Carlos; na zaga, Juan, Lúcio, Luisão e Roque Júnior; no meio, Zé Roberto, Emerson, Kaká, Ronaldinho; no ataque, Ronaldo, Adriano e Robinho.

Mas uma derrota para a Argentina em junho de 2005 teve o mesmo efeito de um banho de água fria. Questionamentos como: os jogadores estão focados na seleção? Não seria melhor mesclar o time titular com mais jogadores que atuam no Brasil?

Parreira conseguiu atravessar aquela fase de questionamentos. Ainda em 2005 chegaria a sua formação ideal, com o Quadrado Mágico: Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano.

O fracasso na Copa de 2006 (eliminação nas quartas para a França) forçou uma renovação para o Mundial seguinte, na África do Sul, em 2010. Dunga, que nem sequer tinha experiência como técnico, assumiu o comando.

A um ano da Copa de 2010, Dunga demonstrava ter já metade do time definido, com uma espinha dorsal formada por Elano, Kaká e Robinho. A principal dúvida era se Diego, Ronaldinho e Adriano mereciam uma chance (nenhum deles foi ao Mundial).

Liderava o ranking da Fifa, mas a diferença é que não estava classificada para a Copa. Precisaria de mais umas rodadas para carimbar a vaga.

A preparação para a Copa de 2014 foi bem difícil, ficando atrás apenas da experimentada em 2002. A diferença é que a vaga na última Copa já estava assegurada porque o Brasil era o país-sede. Não havia risco de eliminação. Mas a confusão era grande. Mano Menezes foi demitido do cargo em dezembro de 2012. Felipão assumiu e estreou apenas em fevereiro de 2013. O Brasil não conseguia ganhar de adversários tradicionais, embora goleasse os mais fracos. Com isso era apenas o 22º no ranking da Fifa.

A um ano para o Mundial, havia muita desconfiança. O que mudou o status daquela equipe foi a Copa das Confederações. A campanha impecável, que terminou com goleada por 3 a 0 sobre a Espanha (então campeã do mundo), deu uma confiança exagerada.

  • Tranquilidade

O clima atual não se assemelha ao da confiança cega que imperava em 2013. Um dos motivos é o técnico Tite. Ele tem feito questão de pisar no freio. Pede aos jogadores pés no chão. Com a classificação à Copa assegurada, ele pretende dar início agora à segunda fase da preparação ao Mundial. O foco são amistosos contra seleções de outros continentes, se possível contra as mais fortes, para calibrar ainda mais sua equipe.

Tendo em vista que ainda falta um ano para a Copa do Mundo, Tite parece estar no caminho certo. Algo que poucas vezes foi feito na história da seleção.

Para não deixar dúvida na afirmação, confira abaixo qual era o cenário enfrentando pela seleção brasileira sempre um ano antes de cada Mundial. A colocação no ranking, a situação na eliminatória e as dúvidas que atormentavam os técnicos.

  • 1930

– Data: 13/07/1929
– Já estava classificado? Não houve eliminatória. O país mostrou interesse em disputar o torneio e foi convidado.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? A um ano da Copa, o Brasil tinha uma das seleções mais fortes do continente. No torneio não foi assim. O principal problema foi uma briga entre as federações de Rio de Janeiro e São Paulo, que impediu que jogadores dos clubes paulistas fossem convocados. Para se ter ideia, em julho de 1929 eram três jogadores de São Paulo na equipe. Em fevereiro do mesmo ano, eram sete.

  • 1934

– Data: 27/05/1933
– Já estava classificado? Definiria a vaga contra o Peru, que desistiu. Assim o Brasil se classificou diretamente para o Mundial.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Foi uma das situações mais bizarras porque a seleção não disputou partida alguma em 1933. Há uma justificativa. Foi o ano de adoção do profissionalismo no Brasil. Havia um racha entre alguns clubes e federações. Por exemplo, o Botafogo era contra. Isso atrapalhou a seleção.

  • 1938

– Data: 04/06/1937
– Já estava classificado? Definiria a vaga contra a Argentina, que desistiu. Assim o Brasil se classificou diretamente para o Mundial.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? O Brasil ficou sem jogar de 1º de fevereiro de 1937 até 5 de junho de 1938, quando estreou na Copa. A maioria dos jogadores atuava no Rio de Janeiro. As exceções eram dois do Corinthians e um do Palmeiras. O técnico era Ademir Pimenta. O time foi mantido basicamente o mesmo de um ano para outro.

  • 1950

– Data: 24/06/1949
– Já estava classificado? Sim, era o país-sede.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Há poucos dias, a seleção brasileira havia conquistado o Sul-Americano (o que não ocorria desde 1922). A base do time era o Vasco e seria mantida até o Mundial pelo técnico Flávio Costa.

  • 1954

– Data: 16/06/1953
– Já estava classificado? Não. A eliminatória seria em 1954.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? A seleção ficou sem entrar em campo de 1º de abril de 1953 até 28 de fevereiro de 1954, na estreia da eliminatória. O técnico foi trocado nesse intervalo. Era Aymoré Moreira e passou a ser Zezé Moreira.

  • 1958

– Data: 08/06/1957
– Já estava classificado? Sim. Enfrentou o Peru em dois jogos (empate e vitória) e ficou com a vaga no Mundial.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? O técnico ainda era Sylvio Pirillo e a equipe estava longe de parecer a que ganharia a Copa com Vicente Feola. Não eram titulares: Gilmar, De Sordi, Orlando, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo. Isso para citar os principais.

  • 1962

– Data: 30/05/1961
– Já estava classificado? Sim, por ser o último campeão
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Aymoré Moreira (irmão de Zezé) fazia poucos testes na equipe campeã do mundo. A um ano da Copa chegou a ter o melhor ataque do Brasil, segundo avaliação de muitos. Era: Garrincha, Didi, Coutinho, Pelé e Pepe.

  • 1966

– Data: 11/07/1965
– Já estava classificado? Sim, por ser o último campeão
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Feola tinha em sua base boa parte dos bicampeões mundiais. Mas a um ano da Copa da Inglaterra chegou a dar chances para Rildo, Dudu, Gerson, Jairzinho e Flávio Minuano.

  • 1970

– Data: 31/05/1969
– Já estava classificado? Não. A eliminatória não tinha começado.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? O comandante era João Saldanha. O jornalista foi incubido de renovar a equipe e resgatar o prestígio da seleção. Ainda estava preparando a equipe. Uma diferença clara para o Mundial é que com ele Rivellino não era titular. Com Zagallo, o camisa 10 corintiano ficou com a vaga de Edu.

  • 1974

– Data: 13/06/1973
– Já estava classificado? Sim, por ser o último campeão
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Zagallo testava o time em amistosos e, uma derrota para Itália, alguns dias antes, fez o treinador rever conceitos. Retomou o time para o 4-3-3. Tirou Edu e Leivinha da equipe titular. Deu chance para Dirceu e Palhinha, respectivamente. O lateral direito Zé Maria era outro com os dias contado. Carlos Alberto Torres estava cotado para voltar. No gol, havia dúvida entre manter Leão ou trazer de volta Félix.  A um ano da Copa, Zagallo tinha poucas certezas.

  • 1978

– Data: 1º/06/1977
– Já estava classificado? Estava na fase final da eliminatória. Teria de jogar contra Peru e Bolívia, partidas agendadas para julho de 1977.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Cláudio Coutinho era o técnico e a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) cogitava transformá-lo em supervisor e deixar o cargo para Rubens Minelli. Naqueles dias discutia-se se Zico, titular absoluto, não deveria perder a posição para Paulo Isidoro. E também o motivo de Falcão não ser convocado – era para a grande maioria o melhor jogador do país. Também discutia-se a preferência do treinador por jogadores do Rio de Janeiro, que eram maioria no grupo (13 de 21).

  • 1982

– Data: 13/06/1981
– Já estava classificado? Sim. Com 100% de aproveitamento (quatro vitórias).
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Foram quatro mudanças no time titular que o técnico entre o último jogo da eliminatória e a estreia na Copa. Mas nesse meio tempo teve muito mais coisa. Falcão só apareceu no time perto da Copa. Careca seria o centroavante, mas se machucou. Reinaldo foi preterido. E Serginho Chulapa foi o titular.

  • 1986

– Data: 31/05/1985
– Já estava classificado? Não. O Brasil estrearia na eliminatória dia 2 de junho.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Telê Santana acabara de assumir a seleção. Nem tinha estreado. Substituiu Evaristo de Macedo. Basicamente repetiu o time do antecessor, que tinha no ataque o trio Renato Gaúcho, Casagrande e Éder. O meio era Toninho Cerezo, Sócrates e Zico. Ele faria mudanças até a Copa. Cerezo (machucado), Renato e Éder saíram. Zico, machucado, só aparecia no Mundial mais para o final.

  • 1990

– Data: 17/06/1989
– Já estava classificado? Não. A eliminatória não tinha começado.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? O técnico Sebastião Lazaroni apresentava como maior novidade um alto número de brasileiros convocados que atuavam fora do país. Não era tão comum naquela época. A imprensa estranhou. Apesar de faltar um ano para o Mundia de 1990, a equipe seria formada mesmo na eliminatória.

  • 1994

– Data: 17/06/1993
– Já estava classificado? Não. A eliminatória não tinha começado.
– Qual era a posição no ranking? Não existia.
– Quais eram as dúvidas do técnico? Faltava um mês para a eliminatória sul-americana começar. Carlos Alberto Parreira testava jogadores. Chegou a usar Edmundo e Müler no ataque durante a Copa América. Com Viola como opção. Romário era ignorado e só seria lembrado na rodada final da eliminatória.

  • 1998

– Data: 10/06/1997
– Já estava classificado? Sim, por ser o último campeão
– Qual era a posição no ranking?
– Quais eram as dúvidas do técnico? Técnico mostrava preocupação no confronto contra os Europeus e a dificuldade que sua equipe havia tido com a marcação no confronto contra a Itália, em amistoso no início de junho de 1997. A zaga ainda estava em avaliação (na época tinha Aldair e Célio Silva). E o ataque tinha Romário e Ronaldo (mas o Baixinho não iria ao Mundial um ano depois por conta de uma lesão).

  • 2002

– Data: 31/05/2001
– Já estava classificado? Não. Estava na 4ª colocação, com 21 pontos, faltando cinco rodadas. Havia grande risco de não se classificar.
– Qual era a posição no ranking?
– Quais eram as dúvidas do técnico? A equipe mudaria muito. A um ano da Copa a equipe ainda era treinada por Emerson Leão e iria iniciar a Copa das Confederações (o treinador seria demitido após o torneio, em que o Brasil caiu na semifinal para a França e perdeu a decisão de terceiro lugar para a Austrália).

  • 2006

– Data: 09/06/2005
– Já estava classificado? Não, mas era vice-líder na eliminatória com 27 pontos e carimbaria a vaga na rodada seguinte ao golear o Chile por 5 a 0.
– Qual era a posição no ranking?
– Quais eram as dúvidas do técnico? Basicamente, Parreira buscava definir a dupla de zaga (Roque Júnior, Lúcio, Juan, Luisão e Alex estavam na disputa). E o companheiro de Ronaldo no ataque. Robinho e Adriano brigavam pela vaga.

  • 2010

– Data: 11/06/2009
– Já estava classificado? Não. Liderava a eliminatória, com 27 pontos, e muito próximo de confirmar a vaga no Mundial da África do Sul.
– Qual era a posição no ranking?
– Quais eram as dúvidas do técnico? Dunga demonstrava ter já metade do time definido, com uma espinha dorsal formada por Elano, Kaká e Robinho. A principal dúvida é se Diego, Ronaldinho Gaúcho e Adriano mereciam uma chance (nenhum deles foi ao Mundial).

  • 2014

– Data: 12/06/2013
– Já estava classificado? Sim, por ser o país-sede.
– Qual era a posição no ranking? 22º
– Quais eram as dúvidas do técnico? Felipão acharia a seleção ideal durante a Copa das Confederações, que começaria no dia 15 de junho. Mas há um ano da Copa o temor maior do técnico era o pouco tempo de preparo. Ele acumulava em 12 de junho de 2013 apenas 126 dias no comando da equipe canarinho. Muito pouco.

Por ESPN