A SEMANA ECONÔMICA – Por Vivaldo Lopes
A semana passada foi marcada por intensa movimentação na seara econômica. Tivemos a “super quarta-feira”, dia em que os bancos centrais do Brasil, Estados Unidos e Japão anunciaram suas respectivas taxas básicas de juros. Na mesma semana os ministros da Fazenda e Planejamento anunciaram que vão bloquear R$ 50 bilhões do orçamento federal para reduzir gastos e criar as condições para atingir a meta de déficit fiscal de 0,25% do PIB em 2024.
A melhor notícia veio do cenário externo. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, manteve a taxa básica de juros em 5,5%. Todavia, no comunicado ao mercado e na tradicional entrevista concedida à imprensa logo após a reunião, o presidente Jerome Powell, disse que muito provavelmente iniciará um ciclo de redução dos juros americanos a partir da próxima reunião de setembro.
Para corroborar a decisão, a administração federal americana apresentou dados do mercado de trabalho (“payroll”) mostrando que a taxa de desemprego aumentou de 4,1% para 4,3%, indicando desaceleração da economia e baixando um pouco as pressões sobre a inflação. A retração do mercado de trabalho naquele país, criam as condições de redução da taxa básica de juros, para reestimular a atividade econômica sem riscos de tirar a inflação da sua rota rumo à meta de 2%.
Como todos os bancos centrais do mundo inteiro tomam decisões levando em conta a questão cambial e a taxa de juros americana, as duas informações repercutiram imediatamente em praticamente todos os mercados de capitais das economias mais relevantes. A redução futura da taxa de juros enfraquece o dólar perante as demais moedas e reduz a pressão do câmbio sobre a inflação nesses países.
Aqui no Brasil, como esperado, o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 10,50%. Curiosamente, no comunicado ao mercado o BC indica que as expectativas da inflação pioraram um pouco desde a última reunião e aponta como variáveis relevantes para a decisão contracionista a trajetória de alta do dólar sobre o real e a taxa de juros americana. De forma colateral, o comunicado indica certa resiliência da inflação de serviços. Deixou de apontar os riscos internos de descontrole das contas públicas como ameaça à condução da inflação para a meta de 3%.
Levantamentos efetuados por dois grandes jornais especializados em economia e negócios do Brasil e EUA, indicaram que a maioria dos economistas e analistas financeiros considera que os fundamentos das economias americana e brasileira não justificam o dólar estar no atual patamar de valorização. Há, portanto, uma boa camada de componentes especulativos na precificação atual da moeda americana frente à brasileira.
O comunicado do Banco Central é muito duro e mais conservador do que pressupõe a realidade econômica do Brasil. Os fundamentos da economia brasileira não justificam a atual taxa de câmbio. As exportações aumentaram, a balança comercial acumula superávits cada vez maiores, aumentando a entrada de dólares no mercado doméstico. A taxa de desemprego caiu para históricos 6,9% no último trimestre e a inflação está dentro da margem de oscilação da meta.
Ao afirmar, no comunicado ao mercado, que a taxa de câmbio “… está persistentemente mais depreciada” o Banco Central arrisca-se a pronunciar uma maldição que pode se autorrealizar. Quando a autoridade monetária afirma que há expectativas ascendentes do dólar, incentiva as empresas e agentes econômicos a considerar esse fator na formação de preços, o que pressiona a taxa de câmbio e ajuda a confirmar a profecia. Algumas empresas ligadas ao comércio exterior passaram a aumentar preços no dia seguinte à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Resumo do samba enredo: o Banco Central do Brasil não indica que vai voltar a elevar a taxa de juros, mas praticamente informa que vai mantê-la em 10,50% até dezembro de 2024. O país continuará convivendo com juros reais anuais de 6,4%. Ao mesmo tempo, o banco central americano informa que vai iniciar ciclo de afrouxamento monetário a partir da reunião de setembro, estimulando o retorno do crescimento da atividade econômica americana.
Paradoxalmente, a decisão do banco central dos EUA parece ser mais positiva à economia brasileira que a decisão do Banco Central do Brasil.
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