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8 vezes em que estrangeiros erraram a mão ao falar mal da Rio-2016

O caminho para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro foi cheio de percalços, inegavelmente. O país entrou em crise financeira e política, viu um Governo Federal cair e o Estado decretar calamidade pública. O Aedes Aegypti tomou a nação de assalto com o vírus Zika, a Baía de Guanabara não foi despoluída a tempo, a escalada de violência amedrontou a população e as obras também deram o que falar.

Só que nem sempre o quadro pintado pelos críticos foi fiel à realidade. Veja, na lista abaixo, sete momentos em que a imprensa internacional errou a mão ao falar da Olimpíada e sua cidade-sede:

1 – 40% da população das favelas do Rio usa crack

Paul Gilham/Getty Images

A afirmação acima é de uma matéria do jornal americano USA Today, que retratou a realidade da cracolândia carioca. A reportagem registrou o uso da droga nas ruas do Rio e ouviu de um pastor evangélico que o consumo está crescendo nas favelas. Baseado em uma projeção do religioso, a matéria afirmou que 40% da população que vive nas favelas do Rio é formada por viciados.

Como mostrou Rodrigo Mattos, blogueiro do UOL Esporte, o número é irreal: “A população de favelas do Rio gira em torno de 1,4 milhão e 2 milhões de pessoas, dependendo do levantamento. Levando-se em conta o número mais baixo, o Rio teria 560 mil viciados em crack, ou quase 10% da população urbana. Seria uma legião de zumbis causando o caos pela cidade”, escreveu ele em um post sobre o assunto.

2 – Grande feito dos atletas chineses será “voltarem vivos”

Reprodução/BBC
imagem: Reprodução/BBC

O acúmulo de manchetes negativas sobre a Rio-2016 aparentemente tem assustado os chineses. Na última quinta, a BBC fez uma reportagem mostrando como os problemas repercutiram entre os asiáticos na Internet. “Pior Olimpíada da história”, escreveu um usuário do Sina Weibo, uma espécie de Twitter chinês. Outros internautas aconselharam os atletas a “tomar cuidado com a água tóxica”. Um último, mais exaltado, escreveu que o grande feito dos chineses seriam “voltarem vivos” do Rio de Janeiro.

O tom é exagerado, obviamente. A poluição da Baía da Guanabara é um problema, mas assim também são 80% das águas das áreas rurais da China, segundo um estudo do próprio governo local em abril. Durante as competições, os atletas terão apenas contato superficial nos locais mais perigosos – a água para consumo no Brasil respeita padrões internacionais de qualidade e, por isso, não pode ser considerada “tóxica”.

Quanto à segurança, a ameaça terrorista de fato existe e preocupa, mas o Brasil segue padrões internacionais na área e conta com o auxílio de forças estrangeiras no combate as ameaças.

3 – Vila Olímpica foi trocada por uma “favela”

Ricardo Borges/Folhapress
imagem: Ricardo Borges/Folhapress

A Austrália entrou em uma Vila Olímpica inacabada, se irritou com as más condições das habitações e deixou o local, causando um enorme rebuliço. A atitude da delegação deste e de outros países que fizeram o mesmo aumentou as críticas à organização, que foi incapaz de entregar a residência dos atletas de maneira organizada.

Só que o colunista Richard Hinds, do australiano Daily Telegraph, foi um pouco além ao dizer que a Vila Olímpica foi trocada por uma favela carioca. Ainda que tenha feito a comparação em tom de piada, o jornalista desconsiderou que os apartamentos são projetados para serem habitações confortáveis, com energia elétrica, saneamento básico, acabamento e mobília, coisas que na maioria das vezes não existem nas comunidades carentes do Rio.

No fim, os problemas que incomodaram a delegação do país foram resolvidos em dois dias e a Austrália retornou à Vila rasgando elogios.

4 – Pessoas defecam nas ruas do Rio em vídeos polêmicos

O tom é humorístico, mas a visão apresentada é tão distante da realidade que não pode ser ignorada. As praias e ruas do Rio de Janeiro não são exatamente limpas, mas retratar essa situação não é o mesmo que dizer que brasileiros fazem necessidade nas ruas ou nadam no mar em meio a fezes humanas. No caso da criminalidade, de fato a violência da cidade-sede dos Jogos têm aumentado e assusta as autoridades, mas é difícil imaginar que bandidos andarão livremente em instalações olímpicas ou nas suas cercanias.

5 – Brasil é o pior lugar do mundo para gays

Fábio Motta/Estadão Conteúdo
imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

O jornal americano Usa Today abordou, na última semana, a homofobia no Brasil. Baseado em um levantamento do Grupo Gay da Bahia, o jornal americano apontou que aproximadamente um membro da comunidade LGBT morre por dia no país. É um cenário real de violência crescente contra homossexuais.

Só que a publicação vai além e questiona se é seguro para atletas olímpicos se assumirem gays no país, comparando a situação brasileira com a de Sochi, na Rússia, sede das Olimpíadas de Inverno há dois anos. Na época, o tema foi amplamente explorado por conta de um endurecimento nas leis na Rússia, que decidiu punir a chamada “propaganda homossexual”, que proíbe manifestações de “relações sexuais não-tradicionais”.

A despeito da violência crescente contra a comunidade LGBT, o Brasil dificilmente está pior que a Rússia em relação a homofobia. A legislação do país-sede dos Jogos permite, desde 2013, o casamento homossexual – diferentemente de vários países que participarão das Olimpíadas. Além disso, o Rio de Janeiro em si é uma cidade considerada amigável para gays e terá Lea T, modelo brasileira transexual, como participante da cerimônia de abertura dos Jogos.

6 – Olimpíada pode espalhar vírus zika pelo mundo

Fernando Vergara/AP
imagem: Fernando Vergara/AP

A falta de conhecimento sobre o real perigo a respeito do vírus zika ganhou contornos assustadores, entre eles o de que a contaminação poderia se dar pelas relações sexuais. Ainda que nada estivesse comprovado, o britânico Daily Star ouviu, em julho, o médico Sam Allen, do hospital universitário Ayr, na Escócia, sobre o assunto. “A preocupação é de que as Olimpíadas acontecerão em cerca de um mês e muitos atletas e torcedores podem ficar expostos e carregar a doença para outras partes do mundo”, disse o profissional.

Ainda não há comprovação de que o vírus pode ser repassado por meio de relações sexuais, mas já há indícios de que a chance de uma epidemia mundial a partir da Rio-2016 é algo pouco provável. Segundo uma pesquisa da Escola Pública de Saúde de Yale, na Inglaterra, menos de duas a cada mil pessoas devem ser infectadas pelo vírus durante o período da Olimpíada. Desse grupo, só 20% apresentariam sintomas ou desenvolveriam alguma doença relacionada. Um número ainda menor seria capaz de levar o vírus para seu país natal.

Não que a proliferação da doença não preocupe, mas é que a Rio-2016 não é o único ou o principal foco do zika. Na última semana, as autoridades da Flórida admitiram 14 casos de contaminação pelo vírus em Miami, e o risco de uma epidemia na região já fez países como a Noruega emitirem uma orientação para que mulheres grávidas não viajem à cidade.

7 – Corrida dos 100 m contra os mosquitos

Reprodução
imagem: Reprodução

A prestigiada revista americana New Yorker dedicou sua capa, em agosto, a uma visão crítica dos Jogos Olímpicos. Mark Ulriksen, ilustrados da revista, desenhou cinco velocistas correndo em uma pista de atletismo. Seu objetivo, no entanto, não era vencer, mas sim escapar de um enxame de mosquitos.

Já faz uma semana e meia que os atletas estrangeiros chegaram ao Rio de Janeiro e não foram muitos os que reclamaram de mosquitos, quanto mais de um enxame deles. Como já se dizia há seis meses, a incidência dos insetos no inverno carioca é bem menor e preocupante. Além disso, a organização se preocupou em vaporizar diariamente as áreas frequentadas pelos atletas com repelentes e tem orientado a todos para se protegerem de eventuais picadas. O resultado é que a histeria causada pelo zika virou piada entre os atletas.

8 – Hope Solo usa “arsenal” e atletas fogem do zika

Reprodução
imagem: Reprodução

Um dos temas mais explorados dos últimos meses, a epidemia do vírus zika causou todo tipo de reação exacerbada na comunidade esportiva. Atletas como os golfistas Phil Mickelson e Jordan Spieth desistiram de vir ao Rio, outros como o espanhol Pau Gasol falaram em congelar o esperma e a goleira Hope Solo criou polêmica ao posar com um “arsenal” contra os mosquitos.

O surto assusta, é claro, mas as informações desencontradas acabaram aumentando a preocupação dos estrangeiros. No começo de junho, a OMS (Organização Mundial de Saúde) reforçou a mensagem de que o zika não será um problema para quem for à Rio-2016 – exceção feita a mulheres grávidas. A baixa incidência de mosquitos no inverno está entre as razões para a liberação. Hope Solo, depois de mostrar seu arsenal, chegou a aparecer de máscara e irritou o técnico da seleção feminina, Oswaldo Alvarez, o Vadão.

Por Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro